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Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

A dança do tempo

30.09.24 | RF

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Quando era criança, o futuro era um recreio infinito. Cada aniversário era uma montanha-russa de expectativas, a promessa de mais liberdade, de sermos "grandes" o mais rápido possível. A adolescência, com a sua aura de mistério e rebeldia, parecia o pináculo da existência.

Mas a vida, cínica como sempre, apresenta-nos a conta. A pressa de crescer dá lugar a uma saudade nostálgica da infância, onde os problemas se resolviam com um abraço e os dias se estendiam intermináveis. A juventude, com a sua beleza efémera, rapidamente se transforma numa mancha de memórias, enquanto a idade avança implacável.

A infância, um jardim encantado onde tudo é possível. A idade adulta, um labirinto de responsabilidades. A velhice, um crepúsculo tranquilo, mas com a sombra da finitude. A dança do tempo é uma valsa frenética, onde lutamos para encontrar o equilíbrio entre o desejo de amadurecer e a necessidade de preservar a inocência perdida.

A vida é um presente, mas a passagem do tempo é um ladrão silencioso. Daí a necessidade de, celebrar cada fase, saborear a doçura da infância, a intensidade da juventude e a sabedoria da idade. Porque a felicidade não se encontra num ponto específico do tempo, mas na capacidade de apreciar cada momento, por mais fugaz que seja.

O silêncio, esse desconhecido

20.09.24 | RF

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Aplaudir durante o minuto de silêncio é como gritar “silêncio!” numa biblioteca. Uma contradição ensurdecedora. Será que as palmas são uma espécie de código secreto? Um sinal de que a pessoa não compreendeu a língua materna? Ou talvez seja uma forma de dizer: “Eu sou mais importante do que este momento de respeito?”

Será que as palmas são a nova forma de assobiar? Ou talvez seja uma maneira de dizer: “Eu estou aqui, olhem para mim!"

É intrigante como algo tão simples de entender se torna tão complexo para alguns.

Algumas pessoas parecem ter um relacionamento conturbado com o silêncio. Será que elas acham que as palmas ajudam a afogar o som dos próprios pensamentos? Ou será que elas simplesmente não sabem bater palmas de outra forma?

O minuto de silêncio tornou-se uma espécie de piada interna. Um convite à reflexão que, paradoxalmente, gera mais ruído do que reflexão. As palmas, nesse contexto, são como um grito ensurdecedor no meio de um murmúrio. Será que as pessoas procuram preencher o vazio do silêncio com algo, qualquer coisa? Ou será que a ideia de não fazer nada durante um minuto é assim tão insuportável?

Imagem: https://br.freepik.com/fotos-gratis/retrato-de-homem-dizendo-shush_15857452.htm#fromView=search&page=1&position=36&uuid=f90b7e26-9a37-434d-8f7e-7024e9f6bc5d

As cinzas da indiferença

18.09.24 | RF

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Mais um dia confinado nesta caixa de fósforo. O ar, antes fresco e convidativo, agora é um caldo espesso de cinzas e desespero. A janela, antes uma moldura para o mundo, agora é um quadro sombrio de um apocalipse particular. Os incêndios, como bestas famintas, roem a paisagem, deixando para trás um rasto de destruição e medo.
E pensar que tudo isto é obra de mãos humanas. Mãos que, sob a capa da noite, acendem o pavio da discórdia e se escondem atrás do fumo. Que tipo de pessoa se deleita em causar tanto sofrimento? Que tipo de mente perversa encontra prazer em transformar um paraíso em inferno?
Enquanto a cidade adormece sob um manto de cinzas, eu vejo-me preso num tédio insuportável. As horas arrastam-se como caracóis, e a cada minuto que passa, a angústia instala-se mais profundamente no meu peito. A falta de ar, a irritação nos olhos, a sensação de sufocar lentamente – tudo isso me leva a questionar a humanidade.
Esses incendiários, covardes e anónimos, são a face mais sombria da nossa sociedade. São os que se escondem atrás de máscaras, os que semeiam o caos e a desordem. São os que, por puro prazer ou vingança, destroem tudo o que encontram pela frente. E nós, os que somos vítimas das suas ações, ficamos à mercê de um destino cruel, presos nas nossas próprias casas, reféns do medo e da incerteza.
Mas uma coisa é certa: a natureza encontra sempre uma forma de se regenerar. As cinzas, por mais densas que sejam, não apagarão a chama da vida. E assim como a fénix renasce das cinzas, a esperança também encontrará um caminho para florescer entre tanta destruição.
Por enquanto, resta-me esperar. Esperar que o vento mude de direção, que a chuva caia e apague este inferno. Esperar que justiça seja feita e que esses incendiários sejam punidos. E esperar, acima de tudo, que a humanidade aprenda a valorizar o que tem antes que seja tarde demais.

 

Imagem criada por IA

A Máscara Dourada

16.09.24 | RF

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A sociedade, um palco sumptuoso onde todos vestem as suas máscaras mais elegantes. Sorrisos largos, como joias falsas cintilando sob a luz artificial, ocultam as verdadeiras emoções, tão frágeis como vidro fino. As palavras, como moedas falsas, são trocadas em profusão, prometendo um valor que nunca será entregue.

A hipocrisia, a moeda corrente nesse reino de aparências, compra a adesão e silencia as discordâncias. Os elogios vazios ecoam nos salões, enquanto as críticas mordazes são segredadas nos corredores. A inveja, disfarçada de admiração, corrói as relações, transformando os encontros sociais em batalhas silenciosas por estatuto e poder.

Sob a máscara dourada, as almas espreitam-se, famintas por autenticidade. Mas a demanda é em vão, porque a verdade é um bem escasso nesse mundo de ilusões. E assim, a dança continua, um ballet macabro onde todos fingem ser aquilo que não são, presos num labirinto de aparências, incapazes de encontrar a saída.

 

Imagem criada por IA

Montalegre: Das bruxas aos DJs

15.09.24 | RF

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A sexta-feira 13 prometia um encontro com o sobrenatural, um mergulho nas profundezas do folclore em Montalegre. A promessa de uma noite fria, com bruxas a assombrar as ruas e o castelo como pano de fundo, era tentadora. Mas a realidade, como tantas vezes, revelou-se bem diferente.

A vila, habitualmente tranquila, estava tomada por uma multidão eufórica. Bares a perder de vista, música nas alturas e DJs a animar a festa. As bruxas, contudo, pareciam ter trocado a vassoura pelo copo e o caldeirão pelo altifalante. O ritual ancestral transformou-se numa espécie de festival de verão, com direito a tudo e mais alguma coisa, menos a magia que se esperava.

O momento mais solene foi a intervenção do padre Fontes. O espetáculo que se seguiu, embora visualmente apelativo, não conseguiu compensar as expetativas criadas. No final, a falta de organização e planeamento, conjugadas com a imprevisibilidade da multidão criaram um ambiente caótico que pouco ou nada teve a ver com a espiritualidade e o misticismo que se pretendia evocar.

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Apesar de tudo, a noite ficou marcada pela beleza do fogo de artifício e pela iluminação do castelo, dois momentos que, por si só, justificaram a deslocação. Mas a magia, a tradição e o mistério que se esperava encontrar em Montalegre, na noite de sexta-feira 13, pareceram ter-se perdido entre a multidão, a música alta e a demanda desenfreada por diversão. As bruxas, afinal, também gostam de música e álcool.

 

Em resumo: Montalegre na noite das bruxas? Uma experiência que, apesar de visualmente apelativa, deixou muito a desejar no que toca à autenticidade e à experiência mística. A tradição, transformada em espetáculo, perdeu-se na multidão e na procura desenfreada por diversão.

 

O Prisioneiro interior

12.09.24 | RF

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O medo, esse fantasma que habita as profundezas do ser humano, tece uma teia invisível que aprisiona a mente e paralisa os movimentos. É um inquilino indesejado que se instala nos recantos mais escuros da alma, alimentando-se da incerteza e da dúvida.

Quando o medo se manifesta, a razão curva-se diante da sua força avassaladora. As ideias mais lúcidas perdem o brilho, e a capacidade de agir esvai-se como poeiras ao vento. Aquele que se deixa dominar pelo medo torna-se um prisioneiro de si mesmo, incapaz de dar passos além da sua zona de conforto.

A mudança, essa constante da vida, amedronta aqueles que se apegam ao conhecido. A novidade é vista como uma ameaça, e o medo transforma-se num escudo contra o desconhecido. Mas é justamente na superação dos medos que reside a verdadeira liberdade.

O medo é poderoso, sim, mas não é invencível. Com coragem e determinação, é possível romper as algemas que impõe e seguir em frente. A chave para a libertação está em reconhecer o medo como um sentimento natural e em encontrar ferramentas para o enfrentar.

A caminhada para superar o medo é individual e exige autoconhecimento e persistência. Ao desafiar os seus próprios limites, o indivíduo fortalece a sua resiliência e descobre um potencial que antes desconhecia. Afinal, a vida é feita de desafios, e é na sua superação que encontramos alento para prosseguirmos a nossa caminhada.

Regresso à Feira do Livro do Porto: Um abraço caloroso

09.09.24 | RF

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Regressei da Feira do Livro do Porto com o coração a transbordar de emoção. Encontrar leitores, aqueles que dão vida às minhas palavras, é um privilégio indescritível. A cada sorriso, a cada abraço, senti a força da ligação que se estabelece entre escritor e leitor. Um lembrete constante de que sem vós, leitores, não somos nada.

Compreendi, mais uma vez, que não há escrita sem quem a leia. Os leitores são os arquitetos da minha história, os meus maiores incentivadores.

Agradeço imensamente à Oficina da Escrita e a todos os seus funcionários, que tornaram esta experiência ainda mais especial. E a todos aqueles que pararam no stand 128 (Oficina da Escrita), para trocarmos algumas palavras, um obrigado do fundo do coração.

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Cada conversa, cada olhar, foi uma injeção de confiança e otimismo. Sinto-me renovado e pronto para abraçar novos desafios. Agradeço a todos por este presente inesquecível. Com a energia que recebi, vou repensar o futuro e continuar a escrever com ainda mais paixão.

 

Imagens: @oficinadaescrita 

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