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Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Até breve, meu amigo.

28.10.24 | RF

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Ontem o dia foi pesado, envolto em sombras de tristeza pela partida de um amigo. A ausência dele é recordada em cada canto, lembrando-nos de todos os momentos partilhados que agora se tornaram memórias preciosas. 

A dor da perda é aguda e penetrante, como uma ferida que não quer cicatrizar. Em cada conversa não terminada, em cada riso silenciado, sentimos o peso do vazio deixado pela sua partida. Há uma injustiça silenciosa em ver alguém que ainda tinha tanto para dar ser levado tão cedo.

Ontem, honramos a sua memória e prometemos manter viva a chama da sua amizade, pois é através dos nossos corações que ele jamais será esquecido.

Revi velhos amigos do nosso tempo de estudantes, mas é triste que nos encontremos apenas em momentos de despedida. Precisamos quebrar esse ciclo e redescobrir a alegria de estarmos juntos. Convivamos mais, celebremos a vida e as memórias dos que partiram. Reunir-nos não deve ser um ritual de luto, mas uma celebração contínua das ligações que construímos. Honremos os que se foram com encontros repletos de amizade e histórias partilhadas. A vida merece ser vivida com a mesma intensidade com que honramos os nossos amigos ausentes.

Que a memória da tua presença nos traga conforto nos dias sombrios que virão.

Até breve, meu amigo.

A última bolacha do pacote

25.10.24 | RF

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Nesta vida, somos como um pacote de bolachas. Algumas são recheadas de confiança, outras de dúvidas. Mas há sempre aquela que se julga a última, a mais especial. Aquela que brilha com um verniz de superioridade, como se fosse a bolacha mais cobiçada.

Essa bolacha, meus amigos, é o fanfarrão. Aquele que se pavoneia, que se gaba, que se coloca num pedestal imaginário, em que acredita ser o centro do universo, o farol que guia todos os outros. Mas, bem vistas as coisas, não passa de um simples biscoito.

Enquanto isso, os outros biscoitos, aqueles que não se gabam, que não se exibem, continuam o seu labor. Eles acreditam no seu potencial, mesmo quando a vida os coloca à prova. Não vacilam perante os fanfarrões, porque sabem que a verdadeira grandeza não está em proclamar-se o melhor, mas em agir com humildade e determinação.

Não sejamos, portanto, fanfarrões. Sejamos as bolachas que acreditam no seu potencial, que não se deixam abalar pelas aparências. Porque, no final das contas, não é a embalagem que importa, mas sim o sabor e a consistência do nosso ser.

Travessia: A jornada de uma Alma

23.10.24 | RF

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O sol espreitava tímido no horizonte, estendendo os primeiros raios sobre a imensidão do mar. Uma criança despertava, sentindo o rosto afundado na areia húmida. Com os olhos ainda pesados de cansaço, ergueu a cabeça lentamente, e os grãos finos e salgados da praia colaram-se à pele. Respirou fundo, sentindo o cheiro da maresia misturado com o suor seco que lhe impregnava o corpo. As ondas iam e vinham, num movimento rítmico, quase hipnótico, como se tentassem acalmar a angústia que começava a tomar forma no seu peito.

Ficou ali por um momento, sem saber ao certo onde estava. A água salgada tocava-lhe os pés descalços, trazendo uma sensação de frescura que contrastava com o peso da areia nas  pernas. Com dificuldade, levantou-se, cambaleando, e olhou ao redor. A praia estendia-se até onde a vista alcançava, deserta e silenciosa, exceto pelo som constante das ondas. Virou-se então para o mar, aquele mesmo mar que tantas vezes ouvira falar, mas que até então só conhecia em sonhos. A vastidão azul estendia-se à sua frente, imponente e indiferente, como um gigante adormecido.

Foi então que as lembranças começaram a voltar.

Lá, na sua aldeia, na vastidão árida de uma terra esquecida, a vida era difícil. A seca castigava as plantações, os alimentos eram escassos e a água ainda mais rara. As noites eram longas, e os dias, cheios de trabalho e privações. Mas, apesar de todas as dificuldades, havia esperança. Ouvira histórias contadas pelos mais velhos, sobre uma terra distante, do outro lado do oceano, onde tudo era diferente. Uma terra onde as pessoas viviam em liberdade, sem medo, onde as crianças podiam correr despreocupadas e o futuro parecia sempre promissor.

"A terra dos homens brancos", diziam alguns. "A terra dos sonhos", murmuravam outros.

E assim, como muitos antes dela, a criança começou a sonhar com essa terra. Sonhava com comida em abundância, com roupas bonitas, com uma vida livre das dores e das preocupações que marcavam a sua existência. Sonhava em correr por campos verdes, em ver cidades tão grandes que faziam as montanhas parecerem pequenas. E, pouco a pouco, o sonho foi-se tornando um desejo ardente, uma necessidade incontrolável de escapar daquela realidade que a prendia.

A decisão de partir não foi fácil. Sabia dos perigos. Todos sabiam. A travessia era longa e o mar traiçoeiro. Muitos tentavam e nunca chegavam. Mas o desejo de alcançar a liberdade era maior que o medo. Reuniu coragem, deixou para trás a aldeia, os poucos amigos, e embarcou numa aventura que mudaria tudo.

O mar, porém, era implacável. Os dias e as noites na embarcação foram de uma agonia silenciosa. O balanço das ondas, que no início trazia um certo fascínio, logo se tornou um martírio. A fome corroía o estômago, e a sede secava a garganta. As pessoas ao redor, amontoadas umas sobre as outras, gemiam baixinho, sem forças para gritar ou pedir ajuda. Todos sabiam que estavam à mercê do destino. O mar decidia quem vivia e quem morria.

E foi então, num breve momento entre o desespero e a esperança, que tudo ficou escuro. A criança não sabia ao certo quando havia adormecido ou quando havia sido engolida pelo cansaço. Lembrava-se apenas de sentir a água fria, o sal a queimar os olhos, e depois... nada.

Agora, ali de pé, olhando para o mar que parecia tão calmo, questionava-se: valeu a pena? Teria valido a pena aquele sofrimento, a dor, o medo, a incerteza de cada instante?

Sentiu o vento suave bater-lhe no rosto, como um toque de despedida. Fechou os olhos e deixou que as lembranças a invadissem. Lembrou-se da mãe, do sorriso cansado dela ao dar-lhe o último pedaço de pão. Lembrou-se dos irmãos, correndo pela terra seca, de pés descalços a levantar poeira. Lembrou-se dos amigos que, como ela, também sonhavam com a terra distante, mas que ficaram para trás. E lembrou-se, sobretudo, do último olhar da mãe, carregado de uma tristeza silenciosa, mas com uma ponta de esperança.

"Vai, meu filho", dissera ela. "Encontra a liberdade que aqui não temos."

Aquelas palavras reverberavam agora, enquanto o mar continuava a sua dança indiferente. A criança perguntou-se se teria realmente encontrado a tal liberdade. Será que do outro lado do mar havia algo além da promessa? Ou será que, como muitos, estava destinada a perder-se entre as ondas, sem nunca alcançar o sonho que tanto acalentara?

Os pés da criança afundavam um pouco mais na areia enquanto ela permanecia imóvel, com os olhos fixos no horizonte. Havia uma quietude estranha no ar, como se o próprio mundo tivesse parado por um instante para observar o seu questionamento.

Será que a liberdade existe para todos? A pergunta teimava em permanecer no pensamento.

Então, um pensamento súbito atingiu-a: e se não houvesse mais nada? E se aquele momento, de pé sobre a areia, fosse tudo o que lhe restava? Sentiu uma pontada de tristeza, mas também de alívio. De alguma forma, já não importava. O peso da jornada dissipava-se aos poucos, e, de repente, tudo parecia fazer sentido.

Olhou para o próprio corpo. Sentia-se leve, quase etérea, como se estivesse a flutuar. O cansaço da travessia, a fome e a dor, tudo isso parecia ter ficado para trás. Lentamente, percebeu que algo estava diferente. Os contornos da sua forma começavam a desaparecer, como se fosse feita de névoa, e a terra sólida sob os seus pés parecia cada vez mais distante.

E então compreendeu.

Atravessar o oceano não era sobre chegar a um novo mundo, mas sobre deixar para trás o antigo. O sofrimento da travessia não era em vão, pois não tinha a ver com alcançar um lugar físico, mas com a jornada da alma, com a libertação de tudo o que a prendia ao passado.

A criança sorriu suavemente. Olhou para o mar uma última vez, sentindo agora uma ligação profunda com ele. Era como se, no final, o mar tivesse sido, desde sempre, o seu verdadeiro destino. As ondas, tão calmas agora, pareciam sussurrar-lhe segredos antigos, histórias de outras almas que também haviam feito a travessia.

Deu um passo à frente, sentindo-se cada vez mais leve. O mundo ao seu redor desvanecia-se, e ela, agora apenas uma brisa suave, deixou-se levar pelo vento. Não havia mais dor, nem fome, nem medo. Havia apenas paz.

A alma da criança, enfim, partiu.

O corpo, inerte, ficou ali, deitado sobre a areia, enquanto as ondas lentamente o envolviam. E o mar, na sua infinita sabedoria, acolheu-o de volta, como sempre fizera com todos os que ousaram sonhar.

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Ao longo da praia deserta, o sol já se erguia no céu, lançando os primeiros raios dourados sobre a imensidão azul. A travessia havia terminado.

Portugueses na II Guerra Mundial: Uma História Contraditória

21.10.24 | RF

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A Segunda Guerra Mundial foi um conflito que marcou profundamente a história mundial. No seu epicentro, a Europa viu nascer heróis e vilões, resistência e colaboração. Entre os muitos que se envolveram nesta saga, encontramos também portugueses, cuja participação, marcada por nuances e contradições, merece ser destacada.

É o que faço no meu livro "Resistência com sotaque", que nos traz um olhar superficial sobre o envolvimento de portugueses no movimento de resistência francesa. Nestas páginas, descobrimos histórias de bravura e sacrifício, de homens e mulheres que, longe da sua terra natal, escolheram lutar contra a opressão nazi. Mas a participação portuguesa na Segunda Guerra Mundial não se limita a este ato de resistência.

Entre as sombras da guerra, havia, no entanto, uma ironia amarga. Enquanto muitos portugueses se uniram à resistência francesa, outros combateram ao lado dos nazis, integrando as infames Brigadas Azuis. Recrutados pelo ditador espanhol Francisco Franco, estes portugueses rumaram à frente oriental, supostamente para combater o comunismo soviético. A decisão de se juntarem a estas forças, que colaboraram com a Alemanha nazi, levanta questões complexas sobre as motivações e ideologias que guiaram estes indivíduos.

A participação portuguesa na Segunda Guerra Mundial revela um quadro complexo, marcado por escolhas individuais, influências ideológicas e circunstâncias históricas específicas. A resistência francesa, representada por portugueses que escolheram o lado da liberdade, e a colaboração com o nazismo, simbolizada pelas Brigadas Azuis, são dois lados da mesma moeda, dois testemunhos de uma época marcada pela violência e pela polarização.

Ao abordar esta temática, é fundamental evitar simplificações e julgamentos apressados. A história dos portugueses na Segunda Guerra Mundial é um sério aviso de que a guerra molda as pessoas de formas inesperadas, e que as decisões tomadas em momentos de crise podem ter consequências duradouras.

É através do estudo aprofundado de episódios como este que podemos compreender melhor o passado e construir um futuro mais justo e pacífico. O meu livro, "Resistência com sotaque", constitui um importante contributo para este debate, convidando-nos a refletir sobre as complexidades da história e a homenagear aqueles que, de diferentes formas, marcaram a sua época.

 

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Máscaras sob a pele

18.10.24 | RF

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Sob a lã macia das ovelhas, escondem-se mandíbulas afiadas e olhares famintos. São os camaleões sociais, mestres da dissimulação. Na arena pública, têm um sorriso angelical e palavras melosas. Nos bastidores, a máscara cai, revelando garras afiadas e um apetite voraz por poder e dominação.

Amizade? Uma moeda de troca.

Bondade? Uma estratégia de caça.

São os predadores que se disfarçam no rebanho, aguardando o momento propício para a estocada final.

As vítimas desses predadores sociais carregam as marcas da traição e da desilusão. A confiança uma vez quebrada, é difícil de reconstruir. A dor da descoberta é profunda, e a sensação de ter sido enganado pode levar anos a ser superada.

E desta forma, a humanidade assiste, atónita, à farsa quotidiana, onde a verdade é um luxo e a hipocrisia, a norma.

A Ilusão da Perspetiva

16.10.24 | RF

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A vida, como um caleidoscópio infinito, apresenta-nos uma miríade de imagens, cada qual moldada pela lente única da nossa perspetiva. É como se estivéssemos todos a olhar para o mesmo quadro, mas cada um vislumbrasse uma obra de arte distinta, dependendo do ângulo em que se posiciona.

A perspetiva, molda as nossas crenças, guia as nossas ações e define a tonalidade das nossas emoções. O mesmo acontecimento pode ser visto como uma tragédia por um, e como uma oportunidade por outro. A diferença reside na lente através da qual observamos o mundo.

É fácil apegarmo-nos a uma única perspetiva, como um barco ancorado num porto seguro. Mas a vida, tal como o mar, está em constante movimento, e as marés da mudança exigem que adaptemos as nossas velas. Ao recusarmo-nos a considerar outros pontos de vista, limitamos a nossa compreensão da realidade e privamo-nos da riqueza que a diversidade de perspetivas nos pode oferecer.

É preciso, portanto, cultivar a arte de questionar as nossas próprias crenças e a coragem de nos colocarmos no lugar do outro. Ao fazer isso, expandimos os nossos horizontes, aprofundamos as nossas conexões e aproximamo-nos de uma verdade mais completa. A verdade absoluta é um mito, e a realidade é um mosaico composto pelas infinitas perspetivas que a compõem.

A nossa perspetiva molda a nossa realidade. Para compreendermos o mundo de forma mais completa, precisamos estar abertos a diferentes pontos de vista.

Apresentação do livro da Ana Ferreira

14.10.24 | RF

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A apresentação do livro da Ana Ferreira foi um verdadeiro acontecimento. O auditório, do Museu Municipal de Penafiel, pequeno para tanta gente, mal conseguiu conter o entusiasmo dos presentes (se calhar, devias ter feito duas sessões de apresentação). Visualmente, o evento foi um espetáculo para os olhos. O teatro de sombras, em particular, foi incrível, criando uma atmosfera mágica que complementou perfeitamente o tema do livro.
 
Tudo estava impecável, desde os cenários cuidadosamente montados até às apresentadoras que conduziram a sessão com graça, eloquência e muita emoção. O tema do livro, a adoção, tocou profundamente todos os presentes, trazendo à tona emoções e reflexões importantes.
Parabéns, Ana Ferreira, pelo sucesso estrondoso do teu livro "Agora já tenho uma família".
Sem dúvida, uma obra que já conquistou muitos corações.
 
Podem comprar o livro aqui:

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