A melhor prenda de Natal
A neve caía em flocos suaves, cobrindo a pequena aldeia com um manto branco. As ruas estavam silenciosas, exceto pelo som distante de um corvo, na vastidão gelada. Dentro da casa de madeira esventrada, Mykola, um menino de dez anos, estava encolhido num canto, envolto em cobertores remendados. O frio cortante fazia com que cada respiração saísse como uma pequena nuvem branca.
A noite de Natal havia chegado, mas não havia luzes brilhantes, árvores decoradas ou presentes embalados em papel colorido. Havia apenas uma vela tremeluzente e o calor escasso de um fogão a lenha que se recusava a aquecer por completo a pequena casa. Contudo, os olhos de Mykola brilhavam de uma esperança que nenhuma adversidade poderia apagar. Ele sabia que aquela noite seria especial.
Horas antes, tinha recebido a notícia pela vizinha: os seus pais, que estavam na frente de batalha, retornariam a casa. Desde o início da guerra, Mykola vivia sob os cuidados dos tios, mas o vazio deixado pelos pais era uma ferida que doía todos os dias. E agora, naquela véspera gelada, o menino contava os minutos, rezando para que eles chegassem antes que a noite acabasse.
Finalmente, ouviu o ranger da porta. Mykola levantou-se de um salto, o coração batia rápido. Quando os seus olhos encontraram as silhuetas dos pais — de rostos marcados pelo cansaço, mas iluminados por um sorriso caloroso — correu para os abraçar, e sentiu o calor que tanto lhe faltara nos últimos meses.
“Mãe! Pai! Voçês vieram!”, exclamou, emocionado.
A sua mãe, Olena, acariciou-lhe os cabelos despenteados. “Claro que viemos, meu amor. Não há lugar no mundo onde gostaríamos mais de estar do que aqui, contigo.”
O pai, Petro, ajoelhou-se para ficar à altura do filho. “Não trouxemos prendas, Mykola, apenas este boneco de pano. Mas prometemos que este será o melhor Natal de todos.”
A casa em ruínas deixava passar o vento frio, mas isso não o impediu de sorrir. Os seus pais haviam encontrado, entre os destroços, um velho boneco de pano, sujo e rasgado, mas com um sorriso costurado à mão. Era a única prenda possível naquele cenário desolador.
Mykola apertou-o contra o peito, feliz.
“Vós sois a minha prenda”, respondeu o menino, com uma simplicidade que fez os olhos dos pais encherem-se de lágrimas.
Sentaram-se juntos, compartilhando o pouco que tinham: uma sopa quente e um pedaço de pão. Cobertos por mantas, os três ficaram lado a lado, contando histórias e rindo baixinho, tentando esquecer por algumas horas o mundo cruel que se insinuava lá fora. Olena cantou uma canção de embalar que Mykola conhecia desde o berço, e Petro contou-lhe como a esperança mantinha os soldados firmes, mesmo nos dias mais sombrios.
Quando a vela finalmente se apagou, deixando-os na escuridão, Mykola não sentiu medo. O calor do amor dos pais era suficiente para afastar o frio e iluminar a noite.
Naquele Natal, não havia enfeites ou prendas, mas havia algo muito mais precioso: a presença, a família e a certeza de que, mesmo em tempos de guerra, o amor pode ser a luz que guia através das trevas. Mykola adormeceu entre os pais, com um sorriso no rosto, certo de que aquele seria um Natal que jamais esqueceria.