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Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

A diplomacia do Reality Show

28.02.25 | RF

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Nos velhos tempos, a diplomacia era uma arte discreta, feita de negociações silenciosas, apertos de mão nos bastidores e comunicados vagos cuidadosamente redigidos. Hoje, os Estados Unidos reinventaram essa prática, transformando a política externa num espetáculo de entretenimento em horário nobre. Não se trata mais de acordos ou estratégias de longo prazo, mas de colocar dois bullys na sala, convocar os meios de comunicação e humilhar publicamente um líder em apuros – tudo transmitido ao vivo para uma audiência sedenta de drama.

 
O caso mais recente foi emblemático. Um chefe de Estado, cujo país trava uma guerra desigual contra um Golias moderno, foi chamado a Washington não para receber apoio, mas para ser publicamente humilhado e amesquinhado. O cenário foi meticulosamente preparado: uma sala imponente, câmeras posicionadas para capturar cada expressão, e dois anfitriões treinados na arte da humilhação política. Perguntas retóricas, insinuações humilhantes, silêncios calculados e sorrisos condescendentes compuseram o espetáculo. O objetivo não era discutir soluções, mas fazer com que a audiência – tanto a doméstica quanto a internacional – percebesse que os ventos mudaram e que o protegido de ontem podia muito bem ser descartado amanhã.
 
Essa nova diplomacia do reality show reflete uma tendência preocupante. A política externa americana já não se guia apenas por interesses estratégicos, mas por métricas de popularidade e pela necessidade constante de um novo vilão ou herói para alimentar o ciclo noticioso. O que hoje é tratado como uma “causa sagrada” pode, em poucos meses, tornar-se um fardo político que precisa ser lançado aos lobos da opinião pública.
 
No fundo, esta abordagem não é apenas cruel, mas também perigosa. Ao submeter líderes aliados a humilhações públicas, os EUA transmitem uma mensagem clara: a lealdade tem prazo de validade, depende dos seus interesses económicos e do humor do dia. Para os adversários, é uma demonstração de fragilidade – um império que precisa de espetáculos para mascarar a falta de direção estratégica. Para os aliados, é um lembrete de que, no grande palco da diplomacia americana, ninguém está a salvo de ser o próximo protagonista de uma sessão pública de desmoralização.
 
Talvez seja um sinal dos tempos. Talvez seja apenas uma fase. Mas uma coisa é certa: quando a política externa se torna um reality show, as únicas vencedoras são as audiências. E as vítimas? Bem, essas podem acabar esquecidas no rodapé das notícias, entre um intervalo comercial e outro.

O reino do avesso

28.02.25 | RF

Os fracos comandam os fortes,
com mãos vazias cheias de tudo.
Sentam-se em tronos sem base,
erguem castelos feitos de vento.

Os mudos discursam em gritos,
os surdos aplaudem em silêncio.
Prometem o que nunca deram,
tomam o que nunca pediram.

Os famintos servem banquetes,
os sedentos afogam-se em vinho.
Os livres carregam correntes,
os presos dançam nos salões.

A justiça pesa leve,
a verdade esconde-se à vista.
O ontem nunca aconteceu,
o amanhã já está perdido.

E assim o mundo gira parado,
governado por quem obedece,
subjugado por quem manda
sem nunca ter sido rei.

A Pátria agradece

27.02.25 | RF

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Durante anos, marcharam sob o sol severo, atravessaram selvas cerradas e enfrentaram inimigos invisíveis. A pátria chamou, e eles foram. Muitos não voltaram, outros regressaram inteiros por fora, mas estraçalhados por dentro.

O tempo passou, as medalhas oxidaram e as promessas de reconhecimento tornaram-se tão vagas como a memória dos que governam. Hoje, alguns desses homens dormem ao relento, cobertos não pelo manto da pátria, mas por cartões gastos e mantas rasgadas. Outros vagueiam sem nome, esquecidos até por aqueles que um dia os incentivaram a combater.

O Estado, sempre generoso em palavras, assegura que o apoio existe. Existe, claro. Tão sólido e presente como os fantasmas das noites sem sono. Entre burocracias kafkianas e um eterno jogo de empurra, muitos destes homens ficam à mercê da sorte – ou da falta dela.

Quando escrevi “A Vida Numa Cicatriz”, queria que fosse também uma chamada de atenção para esta realidade. Porque estes homens merecem mais do que discursos vazios e condecorações póstumas. Merecem respeito, dignidade e o reconhecimento de um país que lhes deve mais do que se atreve a admitir.

 

P.S.: A situação dos ex-combatentes da Guerra do Ultramar continua a ser uma ferida aberta na sociedade portuguesa. Apesar das promessas e medidas anunciadas ao longo dos anos, muitos destes homens enfrentam o abandono e a precariedade. Estima-se que cerca de 200 ex-combatentes vivam atualmente como sem-abrigo, lutando diariamente pela sobrevivência.

Fonte: acorianooriental.pt

 

Ai dos vencidos, ai dos fracos

26.02.25 | RF

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Os emissários chegaram com fatos impecáveis e sorrisos treinados, trazendo com eles um papel timbrado e a promessa do respeito. Pois, o respeito! A Ucrânia, exangue e exaurida, olhou para o documento com a esperança de um condenado que lê a sua última apelação. "Estamos do vosso lado", diziam os aliados, "mas sejamos razoáveis".

E então vieram os números, as cláusulas, as concessões. "Naturalmente, em tempos difíceis, precisamos de garantias." O trigo? Uma parte considerável, afinal, a solidariedade tem custos logísticos. O gás? Bem, os suprimentos são escassos, e quem mais senão um amigo para vendê-lo a um preço justo — justo para quem o revende. E as armas, claro, generosamente fornecidas, mas em troca de um alinhamento prudente nas futuras decisões geopolíticas.

"Mas o direito internacional...", tentou murmurar a Ucrânia, enquanto assinava, pois até um vencido precisa acreditar em alguma coisa.

Os emissários sorriram, satisfeitos. O respeito fora concedido. Agora, era hora de cobrar o pagamento.

 

imagem gerada por IA

Uma Rosa Assim - a mais recente criação dos Monda

26.02.25 | RF

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"Uma Rosa Assim" é a mais recente criação musical do grupo alentejano MONDA, liderado por Jorge Roque. Nesta composição, a banda funde harmoniosamente os sons quentes da América Latina com a profundidade do timbre alentejano, resultando numa melodia que transcende fronteiras e celebra a universalidade da música. A voz de Jorge Roque, enriquecida por diversas influências, conduz-nos por uma viagem sonora onde o tradicional e o contemporâneo se encontram, oferecendo uma nova perspetiva sobre o Cante Alentejano. "Uma Rosa Assim" destaca-se como um testemunho da capacidade dos MONDA em inovar, mantendo-se fiéis às suas raízes culturais.

Ouvir "Uma Rosa Assim"

imagem: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=849245647202289&set=pb.100063505839781.-2207520000&type=3

 

"O Cavaleiro da Armadura Enferrujada" – Um espelho da alma

25.02.25 | RF

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Robert Fisher, com simplicidade e profundidade, entrega em O Cavaleiro da Armadura Enferrujada, uma parábola que transcende o tempo e as circunstâncias individuais. O livro, aparentemente ingénuo, revela-se uma obra carregada de ensinamentos poderosos, que nos convida a encarar as armaduras invisíveis que acumulamos ao longo da vida: medos, inseguranças e a necessidade de aprovação externa.

A jornada do cavaleiro, repleta de metáforas, não é apenas uma aventura, mas um chamamento à introspeção. Cada etapa, cada desafio enfrentado, simboliza as batalhas internas que evitamos encarar, aquelas que só nós mesmos podemos vencer. A história transforma-se num espelho, refletindo as nossas fragilidades, mas também a nossa capacidade de superação.

O ponto mais marcante é como Fisher nos faz entender que a armadura, que inicialmente parecia proteção, se torna prisão. Assim, página a página, vamo-nos despindo das nossas máscaras, sentindo a leveza da liberdade de sermos autênticos.

Este livro não desperta apenas o desejo de mudança; ele oferece uma bússola para o autoconhecimento. A sua leitura é como uma semente plantada no coração, que germina na compreensão de que o caminho mais difícil – o de enfrentar a si mesmo – é também o mais recompensador.

Uma obra que inspira a cada releitura, lembrando-nos que, no fim, o maior tesouro está em redescobrir quem realmente somos.

A Quimera da Europa Una

24.02.25 | RF

Oh, utopia insensata, que proclama a Europa una e indivisível, erguendo estandartes de concórdia sobre os escombros de séculos de dissonância! Os seus arautos, armados de tratados e jargões burocráticos, julgam que um punhado de regulamentos e reuniões em salas bem iluminadas bastarão para aplacar as rivalidades que incendiaram o continente desde tempos imemoriais. Como é doce o sonho daqueles que ignoram a História!

A Europa, esse velho mosaico de nações, não se fez em escritórios, mas no campo de batalha, onde reinos se ergueram e ruíram ao som de espadas e canhões. As suas fronteiras foram traçadas com sangue, os seus idiomas afiados no cadinho da guerra, as suas culturas moldadas pela desconfiança mútua. Que ironia é pedir a esses povos que esqueçam os rancores que os forjaram!

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O sonho de uma Europa una é, no fundo, a ilusão daqueles que julgam que a História pode ser reescrita com estatísticas e tratados comerciais. Mas a Europa real, a Europa das praças e dos becos, das tabernas e dos parlamentos acalorados, é feita de nações que, por mais que negociem, jamais esquecerão quem são. E talvez seja melhor assim, pois é da pluralidade e do atrito que nascem as grandes obras. Uma Europa sem rivalidades, sem discórdias e sem paixões seria uma Europa sem alma, um teatro sem atores, um banquete sem vinho.

E a Ucrânia? A Ucrânia, cujo sofrimento recente deveria ser uma lição a todos aqueles que ainda acreditam em promessas fáceis e alianças inquebrantáveis. Poderá contar com a ajuda da União Europeia? Talvez, mas sempre com a desconfiança de que, na política internacional, as promessas raramente resistem ao teste do tempo. Pois, na arena das nações, a solidariedade tem um preço, e o pragmatismo é, muitas vezes, o verdadeiro regente dos destinos dos povos.

Deixemos, pois, a quimera descansar e aceitemos a Europa como ela é: múltipla, irascível, grandiosa na sua cacofonia. Pois só no tumulto da diversidade reside a verdadeira força deste velho e indomável continente.

 

imagem gerada por IA

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