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Dizem que somos a espécie mais inteligente do planeta. Claro, sem dúvida, só que com a inteligência veio o dom inigualável de destruir tudo à nossa volta – e a nós mesmos, já agora. Humanos, há muitos. O que falta mesmo é humanidade, essa criatura mítica que aparece nos discursos de Natal e desaparece no resto do ano.
Observemos a fauna urbana: apinhados em transportes públicos, cada um no seu mundinho digital, ignorando o idoso que se equilibra como um contorcionista de circo para não cair. No trânsito, buzinar é mais comum do que piscar os faróis, porque a pressa é inimiga da cortesia. E, claro, o espetáculo diário das redes sociais, onde a empatia se resume a um "força" nos comentários (em forma de emoji, porque por extenso é custoso), enquanto se saboreia um café gourmet.
Nas grandes corporações, a humanidade resume-se a relatórios de responsabilidade social e eventos de caridade fotogénicos. O importante é parecer altruísta, não ser. Nos noticiários, a miséria desfila entre intervalos comerciais, e as tragédias internacionais competem pelo tempo de antena com a última tendência de moda.
A verdade? A humanidade tornou-se um conceito bonito, mas opcional. Um luxo que se ostenta quando dá jeito e se guarda na gaveta quando incomoda. Porque, no fundo, entre ser humano e ter humanidade, muitos preferem a primeira opção – dá menos trabalho.
imagem: Banksy