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Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Simplificar o complexo ou complexificar o simples?

30.04.25 | RF

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Vivemos tempos de urgência. Tudo deve ser rápido, direto, digerido em poucas palavras. Aplaude-se quem "simplifica o complexo", como se tal proeza fosse sempre virtuosa. Mas será que, ao fazê-lo, não perdemos a essência, os matizes, os detalhes que dão sentido ao mundo?

Simplificar pode ser útil — até necessário. Facilita a comunicação, promove o entendimento, dá-nos uma sensação de domínio. Mas e se essa simplificação for, na verdade, uma redução enganosa? Quantas ideias se tornaram dogmas por terem sido demasiado resumidas? Quantas decisões erradas foram tomadas porque alguém quis "resumir o problema"?

Talvez devêssemos perguntar o inverso: e se o verdadeiro desafio for aprender a complexificar o simples? Ver a teia onde antes víamos apenas um fio. Questionar o óbvio, mergulhar onde todos se limitam a molhar os pés. Nem tudo cabe num tweet. Nem tudo deve caber.

Será o mundo simples que se complica, ou complexo que se disfarça de simples?

Talvez a resposta esteja no equilíbrio — ou talvez a pergunta esteja mal feita.

Apagão e rádio portátil

29.04.25 | RF

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Ontem, o futuro decidiu tirar um dia de folga. No auge do apagão nacional, com ecrãs pretos, routers calados e assistentes virtuais tão mudos quanto cúmplices, vi-me obrigado a desenterrar das profundezas de uma gaveta esquecida um artefacto lendário: o meu Grundig portátil, um hit boy a pilhas, sobrevivente estoico dos gloriosos anos 90.

Enquanto o país mergulhava no caos digital, fui salvo por aquele pequeno bastião da tecnologia analógica, que, com o seu som mono e chiado reconfortante, me dava as notícias com a solenidade de quem já viu de tudo. Foi irónico: num tempo em que carregamos o mundo no bolso, bastaram umas pilhas AA e uma antena esticada à antiga para me manter ligado ao mundo.

Lá fora, vizinhos trocavam olhares perdidos, à procura de sinal como se fossem peregrinos do século XXI. Eu, no entanto, herói involuntário da resistência analógica, escutava as novidades sentado à varanda, com o Grundig no colo, como quem segura o Santo Graal. Quem diria que, no fim, seria o passado a mostrar-nos o caminho?

A ignorância coletiva e o perigo da opinião sem conhecimento

27.04.25 | RF

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Vivemos numa era onde a opinião parece ter adquirido um valor absoluto, independentemente do conhecimento que a sustenta. Todos se sentem no direito – e até no dever – de opinar sobre qualquer tema, como se o simples facto de serem muitos tornasse suas palavras mais acertadas. No entanto, como já dizia Marco Aurélio, "A opinião de dez mil homens não tem valor se nenhum deles sabe algo sobre o assunto".

Isto fica evidente nos debates públicos sobre temas técnicos e científicos. Quando um virologista fala sobre pandemias, de imediato aparecem milhares de vozes que, sem qualquer formação, contestam com “pesquisas” duvidosas. Quando um engenheiro alerta sobre os riscos de uma infraestrutura, há sempre um grupo que o desmente com base em intuições e crenças populares. E assim, em vez de se procurar a verdade, cria-se um ruído ensurdecedor que confunde e atrasa qualquer progresso.

A ilusão da democracia absoluta do conhecimento leva a absurdos. Se dez mil pessoas sem qualquer formação em medicina decidirem que beber lixívia cura doenças, isso não transforma a mentira em verdade. Se um milhão acreditar que a Terra é plana, ela não se tornará menos redonda. Mas, hoje, vivemos numa sociedade onde a quantidade de opiniões se sobrepõe à qualidade do conhecimento, e quem ousa lembrar disso é acusado de arrogância.

O problema não está em questionar, mas na recusa em aprender antes de opinar. Para que a opinião seja válida, é preciso que esteja ancorada no saber. Caso contrário, não passa de barulho, e, como bem sabemos, o barulho das multidões nunca construiu uma ponte – apenas a destruiu.

Chegou a madrugada que esperávamos

25.04.25 | RF

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Celebro o 25 de Abril sem arrependimento, sem a sombra do luto que por vezes querem lançar sobre a aurora da liberdade, sem reservas nem tibiezas, mas com o coração pleno de gratidão por um povo que ousou romper o silêncio da opressão para erguer, com cravos e coragem, a bandeira da liberdade, da igualdade e da fraternidade — viva o 25 de Abril, viva a liberdade de expressão, de pensamento e de ação, que ninguém ouse calar ou trair.

A importância da liberdade

24.04.25 | RF

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Liberdade é o sopro que se sente no peito quando já não há grilhões a prender os passos nem vozes a ditar o rumo. É a escolha, com todos os seus riscos, de ser quem se é, de falar o que se pensa e de caminhar na direção do seu sonho. Mas engane-se quem acredita que ela é gratuita — a liberdade custa caro. Às vezes, custa uma vida. Outras, custa a coragem de romper com o que nos disseram ser o certo, o aceitável, o permitido.

Ela serve para dar sentido à existência. Sem liberdade, viver é apenas obedecer. Com ela, viver torna-se criação, erro, recomeço e descoberta. É ferramenta e fim. É o que permite amar sem medo, lutar por justiça, dizer “não” ao que oprime e “sim” ao que liberta.

E quanto vale? Tudo. Porque sem liberdade, tudo o resto é apenas decoração no cárcere da alma.

Viva a liberdade.

 

imagem retirada da web

 

Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor

23.04.25 | RF

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Nada mais justo do que celebrar o poder transformador da leitura — essa ponte silenciosa entre mundos, tempos e almas.

Se há um livro que merece ser lido com o coração desperto, é "Resistência com Sotaque". Uma obra que não apenas conta histórias, mas dá voz a quem tantas vezes foi silenciado. Cada página pulsa com coragem, identidade e verdade. Ler este livro é um ato de empatia, uma escolha consciente de escutar os ecos da resistência em cada palavra com sotaque.

Hoje, mais do que nunca, leia. Leia para se libertar, para se encontrar, para resistir.
Porque quem lê, jamais caminha só.

O tempo que nos escolhe e os caminhos que escolhemos

22.04.25 | RF

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Ninguém escolhe o tempo nem o mundo em que nasce. Esta verdade, simples mas profunda, recorda-nos que somos lançados à existência num contexto que nos antecede, com as suas crises, injustiças, avanços e retrocessos. Não escolhemos nascer em tempos de guerra ou de paz, de escassez ou de abundância, de liberdade ou de opressão. Somos, de início, frutos do acaso e do contexto. Mas isso não nos condena à passividade. Pelo contrário, é justamente nessa impossibilidade de escolha do ponto de partida que se revela a grandeza da liberdade humana: a de decidir o rumo.

Podemos não escolher o cenário, mas escolhemos o papel que queremos desempenhar dentro dele. Uns escolhem o silêncio cúmplice, outros a coragem de se levantar. Alguns deixam-se moldar pelo cinismo dos tempos, outros resistem com pequenos gestos de bondade e integridade. A vida não nos dá garantias, mas oferece-nos a oportunidade de ser autores da nossa própria história, mesmo quando o pano de fundo parece imutável.

Por isso, mais do que lamentar o mundo que herdámos, importa perguntar: que mundo queremos deixar? Que ações estão ao nosso alcance para traçar um caminho coerente com os nossos valores? A liberdade pode ser condicionada, mas nunca completamente anulada. A escolha é, sempre, o último reduto da dignidade humana. E é nela que reside a esperança de um mundo melhor.

 

Imagem: Pixabay

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