O nobre ofício da metáfora
A metáfora, essa ilustre criatura da língua, é basicamente o disfarce carnavalesco das palavras — um "vamos fingir que somos outra coisa", mas com ares de literatura polida. Em vez de dizer que a vida é difícil, diz-se que a vida é um campo minado, o que não só é mais dramático como permite ao autor parecer sábio e atormentado, mesmo que só tenha perdido o autocarro.
Há quem pense que a metáfora serve para embelezar o discurso. Tolice. A metáfora serve, antes de mais, para confundir quem lê e fazer o autor parecer mais inteligente do que realmente é. Dizer “os olhos dela eram estrelas” parece bonito até nos lembrarmos que estrelas são esferas incandescentes de plasma a milhões de quilómetros. Perigoso ter isso na cara. Mas vá lá, é arte.
Metáforas também são ótimas desculpas para fugir da verdade. Por exemplo, “ele era um leão no tribunal” significa que gritou muito e talvez tenha salivado sobre o juiz. E “ela tem um coração de pedra” pode muito bem querer dizer que não respondeu a uma mensagem de bom dia no WhatsApp.
Em suma, a metáfora é o Photoshop da linguagem: nunca mostra a coisa como ela é, mas como gostaríamos que parecesse, com filtros, florzinhas e uma pitada de pretensão. E assim caminha a humanidade — aos tropeções, mas poeticamente.
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