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Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

O nobre ofício da metáfora

30.06.25 | RF

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A metáfora, essa ilustre criatura da língua, é basicamente o disfarce carnavalesco das palavras — um "vamos fingir que somos outra coisa", mas com ares de literatura polida. Em vez de dizer que a vida é difícil, diz-se que a vida é um campo minado, o que não só é mais dramático como permite ao autor parecer sábio e atormentado, mesmo que só tenha perdido o autocarro.

Há quem pense que a metáfora serve para embelezar o discurso. Tolice. A metáfora serve, antes de mais, para confundir quem lê e fazer o autor parecer mais inteligente do que realmente é. Dizer “os olhos dela eram estrelas” parece bonito até nos lembrarmos que estrelas são esferas incandescentes de plasma a milhões de quilómetros. Perigoso ter isso na cara. Mas vá lá, é arte.

Metáforas também são ótimas desculpas para fugir da verdade. Por exemplo, “ele era um leão no tribunal” significa que gritou muito e talvez tenha salivado sobre o juiz. E “ela tem um coração de pedra” pode muito bem querer dizer que não respondeu a uma mensagem de bom dia no WhatsApp.

Em suma, a metáfora é o Photoshop da linguagem: nunca mostra a coisa como ela é, mas como gostaríamos que parecesse, com filtros, florzinhas e uma pitada de pretensão. E assim caminha a humanidade — aos tropeções, mas poeticamente.

 

Imagem: Pixabay

Tempo e silêncio

29.06.25 | RF

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Para todos os males há dois remédios, o tempo e o silêncio — diz-se, e hoje, mais do que nunca, esta verdade parece lembrar com uma urgência subtil.

Vivemos rodeados de ruído: notificações, opiniões, julgamentos instantâneos. O mundo exige respostas imediatas, posições firmes, palavras a jorro — como se o falar curasse, como se o gritar resolvesse. Mas há dores que não se debatem, apenas se escutam em silêncio, como se o próprio sofrimento exigisse recolhimento para ser entendido. O silêncio, nestes tempos de excesso, é um ato de coragem. Não é omissão, mas maturação. É nele que a ferida encontra o espaço para respirar.

E o tempo, esse velho escultor paciente, ensina que nenhuma dor é eterna no mesmo formato. O que hoje é abismo, amanhã será lembrança. Não porque o tempo apaga, mas porque transforma. Ele não cura como quem apaga um erro, mas como quem resinifica a paisagem após a tempestade. No tempo, aprende-se que algumas respostas não vêm de fora, nem de agora — vêm depois, e de dentro.

Assim, entre o silêncio que resguarda e o tempo que amadurece, os males da vida perdem a sua tirania. Não desaparecem, mas tornam-se suportáveis. E, com sorte, tornam-se ensinamento.

 

Imagem: Pixabay

Ouvir para falar pouco

28.06.25 | RF

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No ruído constante do mundo, onde todos querem ter razão e poucos querem entender, há sabedoria em calar. Quem ouve mil vezes, aprende a ver com os ouvidos e a sentir com o silêncio. Escutar é mais do que esperar a vez de falar — é acolher o outro dentro de si, ainda que por um instante.

A palavra dita após mil escutas não é barulho, é ponte. Ela não fere, não impõe, não grita. Ela acalma, ilumina, transforma. Quem fala só uma vez depois de ouvir mil, já não fala por si — fala pelo que compreendeu do outro, pelo que aprendeu da vida.

Em tempos de urgência e eco, seja aquele que escolhe o silêncio como instrumento de escuta e a palavra como gesto de paz. Porque, às vezes, uma só palavra, dita na hora certa, pode salvar o que mil gritos destruiriam.

 

Imagem: Pixabay

Marcas e escolhas futuras

27.06.25 | RF

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Ainda que o seu passado tenha marcas, o seu futuro está intacto. E isso, embora possa ser assustador, é também uma promessa.

As cicatrizes que carrega — visíveis ou não — contam histórias de quedas, perdas e recomeços. Mas elas não são grilhões. São apenas testemunhas silenciosas de onde já esteve, não de onde ainda pode chegar.

O futuro ainda não nasceu. Ele espera, em silêncio, pela próxima escolha. Por isso, não se deixe aprisionar pelos erros, nem se deixe iludir com glórias passadas. Caminhar é uma decisão diária. Escolher também.

Lembre-se: por mais longa que tenha sido a noite, o amanhecer continua intacto. Faça dele um novo começo.

 

Imagem: Pixabay

Já deram pela falta das abelhas?

26.06.25 | RF

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No frágil equilíbrio do mundo, há pequenas criaturas que sustentam engrenagens gigantescas. As abelhas, com o seu voo humilde e incansável, são jardineiras do planeta, tecendo pontes invisíveis entre flores e frutos, entre vida e continuidade. Enquanto zumbem em redor das pétalas, parecem dançar ao som de uma música ancestral que só elas compreendem — uma sinfonia de sobrevivência, beleza e urgência.

O seu trabalho é silencioso, mas essencial. São elas que fecundam os campos, que garantem que os pomares floresçam, que os alimentos cheguem à mesa. Uma única abelha, ao visitar centenas de flores por dia, realiza uma tarefa que parece banal, mas que alimenta ecossistemas inteiros. E o que fazemos nós em troca? Envenenamos o ar, destruímos os habitats, esquecemos que, sem elas, o prato humano ficará vazio… e o mundo, estéril.

Há um silêncio que cresce. Um silêncio feito da ausência do zumbido, do abandono das colmeias, do colapso invisível de algo que julgávamos eterno. Será que compreendemos o que está em risco com o seu desaparecimento? Quando a última abelha cair, quem irá polinizar os sonhos da Terra? Os drones? As mãos humanas? A natureza não se substitui por capricho. A cada colmeia silenciada, morre um pouco da esperança. E com ela, uma parte de nós.

As abelhas são como operárias da luz: pequenas, organizadas, resilientes. Ensinam-nos sobre comunidade, sacrifício e propósito. Trabalham não para si, mas para o todo. Que outro ser tão pequeno realiza uma obra tão grandiosa? Talvez devêssemos olhar para elas com mais reverência. Imitar-lhes a dedicação. Cuidar do mundo como elas cuidam das flores.

E se as abelhas forem, no fundo, um espelho do que fomos e deixámos de ser? O seu desaparecimento não é apenas uma tragédia ecológica. É um grito abafado, uma contagem decrescente. E talvez, quando o último zumbido cessar, não reste mais ninguém para ouvir o lamento da Terra.

 

Imagem: Pixabay

O apocalipse dos NPCs

25.06.25 | RF

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Vivemos tempos extraordinários. Antigamente, temíamos guerras, pandemias ou mesmo o fim do planeta. Hoje, o verdadeiro apocalipse tem outro nome: lives de NPCs no TikTok.

Sim, senhoras e senhores, jovens que antes sonhavam ser astronautas, médicos ou até youtubers agora ambicionam algo maior: fingir ser personagens de videojogos com tiques repetitivos em direto para milhões de pessoas, enquanto recebem “rosas digitais” e sussurram “ice cream, so yummy!” como se isso fosse a nova filosofia de vida. Platão revirou-se na caverna.

É comovente ver um ser humano — dotado de polegares opositores, raciocínio abstrato e acesso à Wikipédia — passar horas a dizer "bang bang" porque um estranho lhe mandou um emoji de pistola virtual. Isto, meus caros, é a evolução ao contrário. Darwin olha-nos, desapontado, do além.

Não me interpretem mal: cada um faz da vida o que quiser. Mas quando a nova forma de ganhar dinheiro é fingir que se é um robô mal programado com problemas de loop, talvez seja hora de nos perguntarmos: isto é entretenimento ou um pedido coletivo de socorro?

Enquanto isso, vamos continuar a partilhar, a comentar e — claro — a doar moedas. Porque nada diz “estou bem psicologicamente” como pagar para ver alguém dizer "corre corre, balãozinho" 137 vezes por minuto.

Parabéns, internet. Superaste-te outra vez.

 

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Imagem: Pixabay

 

Acredita em ti

24.06.25 | RF

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Haverá sempre alguém que não vai conseguir perceber o teu valor. Pode ser um colega que te inveja em silêncio, um amor que te toma por garantido, ou até um estranho que julga sem saber. Mas o mais perigoso de todos é quando esse alguém és tu.

Quando começas a duvidar do teu lugar no mundo, a desvalorizar as tuas conquistas ou a comparares-te com os outros ao ponto de te apagares — aí, tornas-te no teu próprio obstáculo.

A verdade é que ninguém sente o que tu sentes, ninguém lutou as tuas batalhas ou carregou os teus silêncios. O teu valor não depende da validação alheia, mas da coragem de continuar mesmo quando ninguém aplaude.

Então, por mais que o mundo te subestime, não te juntes à multidão. Reconhece-te. Porque, se tu não fores por ti, quem será?

 

Imagem: Unsplash

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