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O silêncio também tem voz

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

O silêncio também tem voz

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Silêncio breve, palavras em breve

26.10.25 | RF

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Meus queridos leitores,

Nas próximas duas a três semanas vou estar ausente, por isso o blog vai fazer uma pequena pausa.

Às vezes é preciso abrandar um pouco o ritmo, cuidar de outras coisas e deixar as ideias respirar — mas prometo que voltarei assim que possível, com a mesma vontade de escrever e partilhar convosco.

Obrigado por estarem sempre desse lado, pelo carinho e pelas palavras que me vão deixando.

Até já — e que estas semanas vos tragam coisas boas!

Com um abraço,

Portugal: onde o erro é património nacional

25.10.25 | RF

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"A forma mais estúpida — e talvez mais perigosa — de tomar decisões é confiá-las a quem nunca pagará o preço do erro."

Em Portugal, temos o hábito de entregar o destino comum a quem se esconde atrás de cargos, relatórios e palavras redondas. Quando o elevador da Glória descarrilou, não foi apenas o ferro que se desprendeu dos trilhos — foi também a confiança de um povo habituado a ver a responsabilidade dissolver-se em comunicados e promessas de inquéritos “a decorrer”.

Quantos decidiram, quantos sabiam, quantos nada fizeram — e quantos, no fim, continuarão a decidir sobre nós sem nunca sujar as mãos? A tragédia expõe o que fingimos não ver: há em Portugal uma cultura de imunidade moral, onde os erros não custam a quem os comete, mas a quem apanha os estilhaços.

E nós, que viajamos de boa-fé naquele elevador, continuamos a acreditar que o problema é o ferro velho — quando talvez o verdadeiro perigo esteja na alma enferrujada de quem decide sem pagar o preço.

 

Imagem: Pixabay

As pedras que carregamos

24.10.25 | RF

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Há momentos em que o peso das palavras não ditas se acumula como pedras nos bolsos da alma. Cada desentendimento, cada mágoa guardada, cada resposta contida transforma-se num fardo que nos prende ao fundo de nós mesmos. Quando chega a hora de uma conversa difícil, o instinto é defender-se, erguer muros, preparar armas. Mas é no respirar fundo que nasce a clareza — no silêncio breve em que o coração se organiza antes de falar.

Despeja então essas pedras: o medo, o orgulho, a raiva. Deixa que a leveza tome o lugar da tensão. Com menos peso, verás mais longe, ouvirás melhor, compreenderás mais fundo. Às vezes, a verdadeira força não está em vencer a discussão, mas em criar o espaço onde a paz pode finalmente ser ouvida.

 

Imagem: Pixabay

O mundo não está perdido -

Só mal frequentado.

22.10.25 | RF

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“Se os homens de bem tivessem a ousadia dos canalhas, o mundo estaria salvo.” — Nelson Rodrigues.

Talvez Nelson tenha razão. O problema é que os homens de bem estão sempre a pedir licença, enquanto os canalhas entram pela porta da frente, ocupam o sofá e ainda pedem café. Os bons ponderam, refletem, fazem reuniões de consciência; os maus agem — e com uma convicção tão cega que até parece virtude.

O homem de bem pensa no impacto das suas ações; o canalha pensa no impacto do seu ego. E, curiosamente, é o ego quem vence mais batalhas. O primeiro hesita em levantar a voz, com medo de parecer agressivo. O segundo grita, mente e convence — e ainda ganha aplausos.

O mundo não está perdido por falta de bondade, mas por excesso de timidez moral. Faltam bons audazes, daqueles que não peçam desculpa por fazer o que é certo. Talvez o segredo esteja numa alquimia improvável: a decência dos justos misturada com a coragem insolente dos canalhas. Quem sabe, assim, o mundo deixasse de ser tão educadamente injusto.

 

Imagem: Pixabay

O gene dos Lusitanos:

Verdade biológica ou mito de identidade?

21.10.25 | RF

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Dizem que há um gene que só pulsa no sangue dos portugueses — o A25-BIS-DR2, herança dos antigos Lusitanos, guardado como um segredo nas montanhas e nas veias do povo. Um código de identidade, dizem uns; uma prova de singularidade, juram outros. Mas será mesmo possível que um povo se resuma a uma sequência de letras e números?

A ciência mostra-nos que todos partilhamos praticamente o mesmo mapa genético — pequenas variações, sim, mas um mesmo chão biológico. O que nos torna diferentes talvez não esteja no DNA, mas na forma como o interpretamos. No modo como sofremos, criamos e recomeçamos. No fado que entoamos, nas caravelas que ousaram o desconhecido, na saudade que insiste em ser sentimento nacional.

Então, será que esse “gene lusitano” é uma realidade científica ou apenas uma bonita metáfora? Talvez o verdadeiro gene que nos distingue seja invisível aos microscópios — o da teimosia, o da resistência, o de continuar mesmo quando o mundo parece esquecer-nos.

Afinal, o que é ser português? Um traço genético exclusivo ou uma herança de alma partilhada, feita de memória, luta e esperança?

 

Nota: há indícios de diferenças de frequência de haplótipos HLA na população portuguesa (por exemplo A26-B38-DR13) que chamam atenção, mas: a afirmação de que existe “um gene único que só os lusitanos têm” (A25-BIS-DR2) não está apoiada em literatura científica credível.

E a extrapolação de que “os portugueses têm o código genético mais antigo da Terra” ou “diferente de todos os outros povos mediterrâneos” é inexata/engano.

Em resumo: mito + exagero mais do que facto científico.

O silêncio de quem compreende

20.10.25 | RF

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“Aprendi a não tentar convencer ninguém.” — esta frase, simples e densa, é um convite à humildade e à liberdade. Quantas vezes, na ânsia de termos razão, tentamos impor o nosso olhar ao mundo? Quantas vezes confundimos partilhar com dominar, ensinar com subjugar? Convencer, diz Saramago, é um ato de colonização — e o é, porque invade o território íntimo do outro, a sua história, as suas crenças, o modo como vê e sente o universo.

Mas se não devemos convencer, o que nos resta? Resta-nos o diálogo. Resta-nos o exemplo silencioso que fala sem exigir eco. Resta-nos a escuta verdadeira, essa arte rara de quem não procura resposta, mas entendimento. Convencer é um gesto de poder; compreender é um gesto de amor. E talvez seja esse o verdadeiro caminho — não o de vencer o outro com argumentos, mas o de caminhar ao seu lado, ainda que em direções diferentes.

 

Imagem: Observador

A verdade não salva tolos

17.10.25 | RF

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A verdade, por mais luminosa que seja, nada pode contra o olhar de quem escolheu a sombra. Um tolo determinado a acreditar numa mentira ergue muralhas de convicção mais sólidas do que qualquer argumento.

A mentira, quando alimentada pela vontade, torna-se fé — e a verdade, sem espaço para florescer, murcha no silêncio.

Que poder tem a razão diante da obstinação?

O diálogo torna-se eco, a prova torna-se suspeita, e o absurdo disfarça-se de lógica. Talvez o maior perigo não esteja na mentira em si, mas na serenidade com que o tolo a acolhe, chamando-a de “sua verdade”. E, nesse instante, o mundo perde um pouco mais da capacidade de distinguir o que é luz do que é chama.

 

Imagem: Pixabay

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