A complexidade do ser humano
O ser humano é, por natureza, um paradoxo ambulante — capaz do mais sublime gesto de ternura e, no instante seguinte, de um retraimento quase pueril perante um olhar, uma palavra, um silêncio mal interpretado. Habita um mundo onde as relações são teias invisíveis, frágeis e densas, feitas de afetos, de receios, de memórias que não se dizem. Aproxima-se dos seus semelhantes na demanda de espelhos e abismos, ora com fome de comunhão, ora com medo da rejeição que antecipa antes mesmo de acontecer.
Com os outros seres vivos, manifesta um domínio que é muitas vezes desamor. Esquece que também ele é natureza, bicho que pensa, árvore que anda, mar que sente. E enquanto se comove com a grandiosidade do universo, tropeça nos próprios passos, magoa-se com migalhas de palavras, ofende-se com gestos que talvez fossem apenas vento.
É nessa delicadeza desmedida, nesse sofrer por detalhes — esses por(menores) — que revela a sua maior fragilidade: querer ser compreendido sem nunca se dizer inteiro. E, ainda assim, há beleza nesse caos — porque é nele que habita a essência humana: contraditória, sensível, profunda. Tão pequena diante do cosmos, e tão imensa no modo como sente.