![274679791_5533586523337473_1435255805857817010_n.j]()
Nos velhos tempos, a diplomacia era uma arte discreta, feita de negociações silenciosas, apertos de mão nos bastidores e comunicados vagos cuidadosamente redigidos. Hoje, os Estados Unidos reinventaram essa prática, transformando a política externa num espetáculo de entretenimento em horário nobre. Não se trata mais de acordos ou estratégias de longo prazo, mas de colocar dois bullys na sala, convocar os meios de comunicação e humilhar publicamente um líder em apuros – tudo transmitido ao vivo para uma audiência sedenta de drama.
O caso mais recente foi emblemático. Um chefe de Estado, cujo país trava uma guerra desigual contra um Golias moderno, foi chamado a Washington não para receber apoio, mas para ser publicamente humilhado e amesquinhado. O cenário foi meticulosamente preparado: uma sala imponente, câmeras posicionadas para capturar cada expressão, e dois anfitriões treinados na arte da humilhação política. Perguntas retóricas, insinuações humilhantes, silêncios calculados e sorrisos condescendentes compuseram o espetáculo. O objetivo não era discutir soluções, mas fazer com que a audiência – tanto a doméstica quanto a internacional – percebesse que os ventos mudaram e que o protegido de ontem podia muito bem ser descartado amanhã.
Essa nova diplomacia do reality show reflete uma tendência preocupante. A política externa americana já não se guia apenas por interesses estratégicos, mas por métricas de popularidade e pela necessidade constante de um novo vilão ou herói para alimentar o ciclo noticioso. O que hoje é tratado como uma “causa sagrada” pode, em poucos meses, tornar-se um fardo político que precisa ser lançado aos lobos da opinião pública.
No fundo, esta abordagem não é apenas cruel, mas também perigosa. Ao submeter líderes aliados a humilhações públicas, os EUA transmitem uma mensagem clara: a lealdade tem prazo de validade, depende dos seus interesses económicos e do humor do dia. Para os adversários, é uma demonstração de fragilidade – um império que precisa de espetáculos para mascarar a falta de direção estratégica. Para os aliados, é um lembrete de que, no grande palco da diplomacia americana, ninguém está a salvo de ser o próximo protagonista de uma sessão pública de desmoralização.
Talvez seja um sinal dos tempos. Talvez seja apenas uma fase. Mas uma coisa é certa: quando a política externa se torna um reality show, as únicas vencedoras são as audiências. E as vítimas? Bem, essas podem acabar esquecidas no rodapé das notícias, entre um intervalo comercial e outro.