A ignorância coletiva e o perigo da opinião sem conhecimento
Vivemos numa era onde a opinião parece ter adquirido um valor absoluto, independentemente do conhecimento que a sustenta. Todos se sentem no direito – e até no dever – de opinar sobre qualquer tema, como se o simples facto de serem muitos tornasse suas palavras mais acertadas. No entanto, como já dizia Marco Aurélio, "A opinião de dez mil homens não tem valor se nenhum deles sabe algo sobre o assunto".
Isto fica evidente nos debates públicos sobre temas técnicos e científicos. Quando um virologista fala sobre pandemias, de imediato aparecem milhares de vozes que, sem qualquer formação, contestam com “pesquisas” duvidosas. Quando um engenheiro alerta sobre os riscos de uma infraestrutura, há sempre um grupo que o desmente com base em intuições e crenças populares. E assim, em vez de se procurar a verdade, cria-se um ruído ensurdecedor que confunde e atrasa qualquer progresso.
A ilusão da democracia absoluta do conhecimento leva a absurdos. Se dez mil pessoas sem qualquer formação em medicina decidirem que beber lixívia cura doenças, isso não transforma a mentira em verdade. Se um milhão acreditar que a Terra é plana, ela não se tornará menos redonda. Mas, hoje, vivemos numa sociedade onde a quantidade de opiniões se sobrepõe à qualidade do conhecimento, e quem ousa lembrar disso é acusado de arrogância.
O problema não está em questionar, mas na recusa em aprender antes de opinar. Para que a opinião seja válida, é preciso que esteja ancorada no saber. Caso contrário, não passa de barulho, e, como bem sabemos, o barulho das multidões nunca construiu uma ponte – apenas a destruiu.