A noite de todos os barulhos (ou como destruir tímpanos com entusiasmo patriótico)
Ontem foi a grande noite em Penafiel — a mítica Noite de Bombos. Ou, como já se começa a chamar com mais propriedade, a Noite de Todos os Barulhos, porque chamar aquilo de “música” é como chamar a um sismo de grau 7 “dança contemporânea”.
Fez-se barulho, sim. Muito. Uma ode estrondosa à persistência humana em bater num bombo como quem tenta invocar os deuses da surdez coletiva. Não se tratou de um espetáculo, a não ser que se considere um espetáculo ver pessoas de meia-idade com tendinites e adolescentes com vontade de serem ouvidos em Braga a bater sem misericórdia, como se o mundo fosse acabar a cada pancada.
As articulações choraram. As cabeças latejaram como tambores de guerra. E o cérebro… esse nobre órgão, foi-se lentamente desligando, talvez por autopreservação, talvez por pena. O objetivo? Não sei. Talvez uma experiência sensorial extrema, para quem achou que a vida estava a ficar demasiado silenciosa.
No fim, ficaram as ruas vibrantes, as almas estonteadas e os ouvidos a pedir misericórdia. E todos concordámos numa coisa: foi memorável. Como uma dor de dentes que se conta com orgulho. Até para o ano, Penafiel — tragam mais bombos. E menos juízo.
Imagem retirada da web