A Pátria agradece
Durante anos, marcharam sob o sol severo, atravessaram selvas cerradas e enfrentaram inimigos invisíveis. A pátria chamou, e eles foram. Muitos não voltaram, outros regressaram inteiros por fora, mas estraçalhados por dentro.
O tempo passou, as medalhas oxidaram e as promessas de reconhecimento tornaram-se tão vagas como a memória dos que governam. Hoje, alguns desses homens dormem ao relento, cobertos não pelo manto da pátria, mas por cartões gastos e mantas rasgadas. Outros vagueiam sem nome, esquecidos até por aqueles que um dia os incentivaram a combater.
O Estado, sempre generoso em palavras, assegura que o apoio existe. Existe, claro. Tão sólido e presente como os fantasmas das noites sem sono. Entre burocracias kafkianas e um eterno jogo de empurra, muitos destes homens ficam à mercê da sorte – ou da falta dela.
Quando escrevi “A Vida Numa Cicatriz”, queria que fosse também uma chamada de atenção para esta realidade. Porque estes homens merecem mais do que discursos vazios e condecorações póstumas. Merecem respeito, dignidade e o reconhecimento de um país que lhes deve mais do que se atreve a admitir.
P.S.: A situação dos ex-combatentes da Guerra do Ultramar continua a ser uma ferida aberta na sociedade portuguesa. Apesar das promessas e medidas anunciadas ao longo dos anos, muitos destes homens enfrentam o abandono e a precariedade. Estima-se que cerca de 200 ex-combatentes vivam atualmente como sem-abrigo, lutando diariamente pela sobrevivência.
Fonte: acorianooriental.pt