A propagação da mentira
Há um vazio que grita, mas não tem nome. É nesse eco surdo da frustração e do medo, que germina o impulso de partilhar — até à exaustão — conteúdo falso, misógino, xenófobo. Quem o faz não o faz, muitas vezes, por maldade consciente, mas por uma urgência cega de pertencer, de fazer parte de algo que valide a própria existência. A mentira reconforta quando a verdade exige responsabilidade; a violência verbal é um escudo para a insegurança; o ódio, uma forma distorcida de encontrar identidade num mundo que parece indiferente.
Essas pessoas encontram nas redes sociais não só um palco, mas um espelho: um reflexo distorcido de si mesmas, alimentado por algoritmos que recompensam o escândalo e a indignação. Partilham como quem grita por socorro, mas o que lançam ao mundo são labaredas — e depois espantam-se com o incêndio.
A verdade, essa, exige silêncio, escuta, humildade. Mas há quem já tenha esquecido como se faz silêncio dentro de si.
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