A verdade veio descalça
Há momentos raros em que o mundo parece recordar-se de si mesmo. A nomeação de María Corina Machado para o Nobel da Paz é um desses instantes — quando a verdade, por fim, atravessa o nevoeiro da conveniência. Não se trata apenas de premiar uma mulher que enfrentou a tirania; trata-se de lembrar que a liberdade não é um luxo, é uma respiração.

O mundo acostumou-se a negociar com a mentira. A ceder um pouco aqui, a fechar os olhos ali — tudo em nome da estabilidade. Mas o que é a estabilidade, senão a paz dos medrosos? Machado não pediu trégua, não procurou o aplauso: escolheu a coerência, mesmo quando ela custava o exílio interior. E é nesse gesto — simples, quase invisível — que repousa a grandeza.
Há quem queira a paz como um troféu, e há quem a viva como um caminho. Um constrói monumentos ao ego; o outro reconstrói pontes no meio das ruínas. Trump sonhou com o Nobel como coroação; Machado encarnou-o como destino.
A sua vitória não é um castigo aos poderosos — é um zunido à consciência humana. Diz-nos, sem o dizer: o medo é o último instrumento da tirania, e a esperança, a sua primeira derrota.
Hoje, o mundo não ficou melhor — apenas se lembrou de que ainda pode sê-lo.
Imagem: NPR.org


