Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Ainda há esperança

14.04.25 | RF

faris-mohammed-nYGVN45DOHg-unsplash (1).jpg

 

Ainda há esperança, mesmo que os dias se arrastem como sombras longas de um sol cansado. Há esperança, mesmo quando o noticiário despeja tragédia como chuva ácida e os olhares nas ruas parecem ter desaprendido o gesto de sorrir. Porque a esperança não é um anúncio público, não se veste de festa nem grita aos quatro ventos. A esperança é clandestina. Vive nos cantos mais obscuros da alma, onde só o silêncio ousa entrar.

Há quem diga que é inútil. Que o mundo está entregue a si mesmo, apodrecendo devagar entre desigualdade, guerras fabricadas e um vício crónico por superficialidades. E, sim, às vezes eu próprio acredito nessa narrativa — como quem aceita o fim de um livro por não aguentar mais a tensão. Mas depois, de forma quase infantil, a esperança reaparece. Disfarçada num pequeno gesto: uma criança que segura a mão de um idoso, alguém que devolve a carteira perdida, ou um desconhecido que segura a porta sem esperar aplausos. Pequenas coisas. Minúsculas. Mas vivas.

Esperança não é otimismo. O otimismo pode ser cego, uma forma de negação. A esperança é mais honesta. Ela sabe que tudo pode correr mal — e mesmo assim insiste. Não por teimosia, mas por sabedoria ancestral. Porque, se tudo desabar e mesmo assim alguém plantar uma árvore, então ainda há um sentido. Ainda há algo que merece continuar.

A esperança, às vezes, é só isso: continuar. Respirar. Amar. Acreditar, mesmo depois de todas as desilusões. Escrever, quando as palavras parecem não importar. Continuar, quando tudo diz que não vale a pena. E se isso não é o mais profundo e humano dos atos, então não sei o que será.

Talvez seja essa a grande revolução que nos resta: não desistir de acreditar no que ainda pode ser belo. Mesmo no caos. Mesmo na dor. Porque ainda há esperança. E ela é mais teimosa do que todas as desgraças que nos rodeiam.

 

imagem: Faris Mohammed

1 comentário

Comentar post