Apreensão e paz
Preocupar-se com o amanhã é como tentar segurar a chuva com as mãos: um esforço vão que apenas molha mais depressa a alma. A mente, inquieta, acredita que antecipar o sofrimento é uma forma de o evitar, mas o que faz, na verdade, é adiantar a dor, somando-a ao presente, onde ela ainda não tem lugar. Cada dia carrega o seu próprio peso, e tentar suportar o fardo do futuro é como vestir um casaco de chumbo antes da tempestade — não impede o trovão, apenas o torna mais difícil de suportar.
A preocupação é um ladrão furtivo. Rouba-nos o sono, a leveza, a presença. Faz-nos viver em versões imaginárias da realidade, onde tudo corre mal e onde esquecemos que a maioria dos medos nunca se concretiza. Viver o agora com serenidade não é desleixo; é sabedoria. Porque, se não temos domínio sobre o amanhã, temos escolha sobre como habitamos o hoje.
E talvez seja essa a mais dura e libertadora verdade: não podemos impedir os problemas de virem, mas podemos impedir que destruam aquilo que ainda não tocaram — a nossa paz de agora.
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