As desventuras do magnífico senhor Gilberto

O senhor Gilberto acorda cedo todos os dias, mas não por causa do trabalho — isso seria demasiado banal — e sim porque um pardal insolente ousa piar perto do seu território. Ele espreguiça-se longamente, olha o horizonte com ar de filósofo cansado e, como grande caçador que é, decide que o pardal pode viver… pelo menos hoje.
Segue-se a árdua tarefa do descanso estratégico: estender-se nas escadas de pedra, como um general a vigiar o reino. A cada rajada de vento, mexe a cauda com desdém, como quem escreve decretos invisíveis de soberania. Quando passa uma folha seca a rodopiar, o sr. Gilberto finge ignorar, mas por dentro debate-se: “Caço ou não caço? Levantar-me exige uma energia que, francamente, ninguém deveria pedir a um gato tão ocupado.”
Assim se resume a vida difícil do senhor Gilberto: entre caçar presas aladas e dominar a arte complexa da sesta perfeita. Ninguém entende o peso desta responsabilidade, exceto ele mesmo — e talvez o pardal ou o rato, que agradecem em silêncio pela magnanimidade felina.