Ausência e orgulho
Estive ausente, sim, mas com uma boa desculpa – a melhor, aliás. As palavras, sempre tão rápidas a formar frases, decidiram entrar em greve. Calaram-se para dar lugar ao sentimento, esse tirano que exige silêncio para se fazer ouvir. Faltou-me a inspiração, mas convenhamos, quem precisa dela quando se está fora do país, em Leicester, a celebrar algo tão maior?
A minha filha – razão da minha vida, sol do meu sistema solar – concluiu um mestrado em bioinformática. A minha modesta escrita, que tantas vezes se atreveu a explicar o inexplicável, viu-se obrigada a recuar. Não há metáfora que traduza o orgulho de ver aquele diploma, nem hipérbole que alcance o sorriso dela ao recebê-lo.
Por isso, perdoem-me a ausência. Não foi descaso, foi admiração silenciosa. Enquanto ela decifrava genes, eu tentava decifrar o que fazer com tanto orgulho. E talvez, só talvez, as palavras tenham agora voltado porque perceberam que também elas têm um lugar nesta história – mesmo que secundário.