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Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Rui Ferreira autor

Nas páginas deste blog, desvendo o meu universo literário. Entre linhas e versos convido-o a mergulhar nas emoções e reflexões que habitam nas minhas palavras. Este é o espaço onde as ideias ganham vida.

Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes

22.05.25 | RF

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Há quem diga que choramos ao nascer por causa do choque térmico, da luz intensa ou do ar que invade abruptamente os pulmões. Mas talvez, só talvez, o choro inaugural seja o primeiro e último ato de plena lucidez que temos. Um grito instintivo diante da tragédia que é nascer num palco já repleto de atores fora do papel, num teatro onde a sanidade é exceção e a demência, regra.

Olhemos à nossa volta. Crescemos a acreditar em manuais de sucesso escritos por fracassados, seguimos líderes que não lideram, confiamos em sistemas que prometem justiça e entregam burocracia, e aplaudimos celebridades que brilham pela ausência de conteúdo. No meio disto, quem ousa fazer perguntas torna-se "problemático", e quem pensa demais é medicado — para bem da produtividade, claro.

Os que choram por compaixão são chamados de fracos, os que roubam com gravata são promovidos, e os que gritam por mudança são apelidados de lunáticos. Que melhor resposta, então, do que um bom choro ao entrar neste manicómio coletivo?

A frase atribuída a Shakespeare — ou a qualquer outro pessimista de plantão — não é apenas uma observação cínica: é um espelho. E o mais trágico é que, à medida que crescemos, deixamos de chorar. Não porque o mundo tenha melhorado, mas porque nos habituámos à loucura. A adaptação, afinal, é a forma mais polida de rendição.

Talvez devêssemos recomeçar a chorar — mas agora, não por desespero, e sim como sinal de alerta. Para lembrar que estar entre dementes não nos obriga a sê-lo também.

 

Imagem: Pixabay

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