Da pá para a Taça
Séculos passaram desde que a valorosa Padeira de Aljubarrota empunhou a sua pá e enfiou um argumento bem assado na cabeça de sete castelhanos atrevidos. Pois ontem, no relvado sagrado da Liga das Nações, a tradição manteve-se viva — só que em vez de pão, serviu-se bola... bem amassada.
A seleção nacional, vestida de vermelho e verde como se fosse uma fornada de esperança, enfrentou os nuestros hermanos com a mesma garra de Brites de Almeida. Só que desta vez, em vez da pá de ferro, usámos o pé de ouro. E em vez de farinha no chão, foi a dignidade espanhola que ficou espalhada.
Parece que estou a imaginar:
[Cena: Balneário espanhol após o jogo. Luz trémula. A porta arromba-se com estrondo. Entra a Padeira de Aljubarrota, de avental e pá em riste.]
Padeira:
— Então meus meninos? Vieram buscar mais? Olhem que a pá não tem ferrugem, está bem temperada com séculos de tradição!
Jogador espanhol:
— Señora, calma, foi só um jogo...
Padeira (erguendo a pá):
— "Só um jogo", dizes tu? Isto é como cozer broa — se não se vigia o forno, queima-se tudo! E vocês hoje saem chamuscados!
Outro espanhol (com gelo no tornozelo):
— Mas... a bola não estava do nosso lado...
Padeira:
— Nem a bola, nem a sorte, nem o talento, homem! Já vos tinha avisado em 1385, não aprenderam nada?
[Dá uma pancadinha simbólica na bancada com a pá. Ecoa como um trovão.]
Padeira:
— Agora vá, toca a sair pela esquerda baixa e não se esqueçam: quem vem a Portugal à procura de glória... leva com a pá da história!
Imagem retirada da web