José de Sousa Saramago
José Saramago foi, e continua a ser, uma singularidade na literatura portuguesa — um sismo de palavras que abalou a tradição e rompeu com o cânone. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1998, não por ser apenas um bom escritor, mas porque ousou interrogar o mundo com ironia, lucidez e uma gramática desobediente. O seu estilo, denso e desafiante, ensinou-nos que a pontuação é uma convenção e que as certezas morais são, muitas vezes, ilusões reconfortantes. Saramago escreveu como quem fere — e depois cura — com a mesma mão.
Teremos outro Nobel português? Talvez nunca mais. O Nobel não é apenas recompensa do mérito literário; é também fruto de uma confluência de contextos, de leituras oportunas, de vozes que se tornam inadiáveis. E, por vezes, Portugal escreve bem demais em silêncio — num canto demasiado modesto da Europa, onde a língua, ainda que falada por milhões, continua a ser periférica para o centro do mundo editorial.
O tempo dirá se haverá outro. Ou se Saramago continuará a ser, como ele próprio poderia escrever, o único homem a quem deram o Nobel por saber contar histórias que ninguém queria ouvir, mas todos precisavam ler.
Imagem: Revista Amar