Leituras perdidas
Quando olho para trás, o que vejo? Um deserto de páginas viradas. Fico com a sensação incómoda de que algo ficou por ler – ou por viver, vá-se lá saber. Li pouco, muito pouco. Outros assuntos, bem mais comezinhos e irrelevantes, roubaram a minha atenção. A realidade, esse monstro insaciável, ocupou-me com as suas trivialidades: contas a pagar, séries medíocres, scroll infinito em redes sociais... Tudo menos literatura.
Dei comigo, num lampejo de remorso, a fazer a lista dos livros lidos este ano. Que ironia amarga! Em vez de um banquete literário, um magro petisco. Confirmo: li menos do que no ano anterior – o que, convenhamos, não era grande feito.
Aqui fica, para registo e vergonha, a minha magra colheita de autores portugueses:
A senhora das Índias, de Alberto Santos
Não se foge à noite que cai, de António Souto
Lembra-te, de Manuela Pereira
A mulher do Dragão Vermelho, de José Rodrigues dos Santos
Dádivas de Deus e ajudas do Diabo, de António Monteiro Santos
A segunda vinda de Jesus Cristo à Terra, de João Cerqueira
25 de Abril, corte e costura, também de João Cerqueira
Agora já tenho uma família, de Ana Ferreira
A cicatriz, de Maria Francisca Gama
É isso. Nove livros. Apenas nove. Mal deu para ocupar uma prateleira. Que grande façanha, não é? Se continuar assim, daqui a uns anos, trocarei a estante por um suporte para post-its.
Mas, enfim, consolo-me a pensar que o próximo ano será melhor. Há sempre esperança – ou autoengano, tanto faz. Afinal, nada como o cheiro de um livro novo para nos lembrar do quanto deixamos por ler.