O amor e o vinho
O que têm em comum o amor e o vinho, senão o poder de nos embriagar e tornar vulneráveis? Ambos começam com promessas doces — um olhar que arde como o primeiro gole de tinto encorpado, uma palavra que desliza como o néctar na garganta. Mas à medida que nos entregamos, o prazer inicial cede espaço à vertigem. Será o amor, como o vinho, um vício que disfarçamos de celebração?
Quem ama não procura a lucidez — deseja o torpor, o abandono, a entrega sem medida. E quem bebe, não foge também à secura da realidade, procurando no fundo do copo um reflexo mais suave da vida? O vinho aquece o peito, como o amor acende a alma — mas ambos cobram. Às vezes, o vinho exige o fígado. O amor, o coração.
E quando falta um, procuramos o outro. Quantos beijos foram substituídos por goles? Quantas foram as noites solitárias afogadas em tintos apenas porque o amor não voltou?
Talvez nos enganemos ao pensar que controlamos o vinho ou o amor. Talvez sejam eles que, sorrateiros, nos tomam. Afinal, quem, depois de prová-los, consegue viver sem desejar mais?
imagem: Pixabay
Mais para ler