O cabo do machado
Quando o machado chegou à floresta, trazia um brilho metálico de ameaça. Ainda assim, as árvores, confiantes, sussurraram entre si:
— Estamos seguras. O cabo é um de nós.
O tronco liso do cabo, feito de madeira como elas, parecia familiar. Era irmão em seiva, em anéis de idade, em raízes que um dia se enredaram no subsolo. Mas esqueceram que o que define uma ferramenta não é do que ela é feita, mas a quem serve.
E assim, o primeiro golpe veio de onde menos esperavam — não da lâmina fria, mas da confiança cega na familiaridade. A floresta, aos poucos, caiu pela mão de algo que julgou ser seu.
Porque às vezes, a maior ameaça não vem de fora, mas de dentro. Daqueles que partilham da nossa natureza, mas que, por conveniência, medo ou ambição, se aliam ao fio da lâmina.
No silêncio das clareiras abertas, restou a reflexão de uma lição: nem tudo o que se parece connosco está do nosso lado.
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