O enigma nacional do papel higiénico
Em tempos de crise — seja pandemia, apagão ou ameaça de fim do mundo à portuguesa — há um instinto que se sobrepõe a todos os outros: o de correr ao supermercado e açambarcar papel higiénico como se disso dependesse a sobrevivência da espécie.
Não é arroz, não são enlatados, nem sequer água potável. É papel. Papel para limpar o traseiro. A pergunta impõe-se: porquê? O que há, no fundo, por detrás deste impulso ancestral? Será trauma mal digerido de uma infância marcada por casas de banho públicas sem abastecimento? Será uma nostalgia inconsciente dos tempos em que o bidé era rei e o rolo de papel o seu fiel escudeiro? Ou andará por aí um fétiche nacional do qual ninguém quer falar?
A verdade é que, diante do pânico, o povo acalma-se com uma embalagem de 12 rolos de folha tripla. O rolo de papel higiénico torna-se símbolo de estabilidade, de ordem, de civilização. Um escudo branco e perfumado contra o caos.
Portugal, país de navegadores e descobridores, mas também campeão mundial no levantamento de paletes de Renova. E não se pense que isto é mero exagero. Há imagens. Há provas. E há sempre aquele vizinho que, mesmo em tempo de paz, já tem o armário abastecido para cinco anos de higiene retal preventiva.
Talvez, no fundo, seja isso. Um conforto psicológico. A certeza de que, mesmo que o mundo arda lá fora, ao menos o rabo estará limpo.
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