O Fardo dos Libertadores
Outrora, marcharam sobre Berlim como libertadores, erguidos em glória contra a besta nazi, trazendo ao mundo a promessa de que o horror jamais se repetiria. O sangue que derramaram selava um pacto: nunca mais. Os herdeiros do Exército Vermelho, que libertaram Auschwitz e prometeram ao mundo que o fascismo jamais voltaria, hoje desfilam tanques sobre os escombros de cidades que juraram proteger. A mesma mão que um dia levantou o estandarte da libertação agora assina decretos de anexação e deportação em massa. Quando a bota pisa, pouco importa se a bandeira é vermelha, azul ou preta — a terra treme da mesma maneira.
Do outro lado, aqueles que, em tempos, foram arrancados das suas casas, espancados, marcados e exterminados em fornalhas, hoje erguem muralhas, isolam, bombardeiam, famintos de segurança e assolados pelo medo. Os filhos de Sião, tornaram-se mestres na arte do cerco. Construíram muros, ergueram checkpoints, criaram guetos onde a esperança definha ao som de drones e explosões. Outrora vítimas, agora administradores da dor. Antes, eram os filhos de Varsóvia; hoje, os senhores de Gaza.
O ciclo fecha-se, a história cospe na lápide dos mártires, e o mundo observa, perplexo, sem saber se lamenta ou se ri da ironia macabra. Afinal, os libertadores tornaram-se tiranos, e os libertados aprenderam depressa a arte dos seus antigos algozes.