O peso do insignificante
As coisas banais existem à margem,
invisíveis como poeira pousada sobre um móvel antigo.
São as migalhas no chão da cozinha,
o som da água a escorrer na pia,
o estalar da madeira sob os pés descalços.
Nada nelas exige atenção.
Nada nelas se impõe.
E, no entanto, preenchem o tempo
com a sua presença silenciosa.
O copo esquecido sobre a mesa
traz com ele a marca de um toque.
A luz que dança sobre a superfície de um talher
brilha para ninguém,
mas ainda assim brilha.
Tudo parece pequeno,
tudo parece descartável
até que um dia falta.
Quando a rotina se desfaz,
quando a cadeira vazia não range mais,
quando a caneta não rebola pelo balcão,
percebemos o quanto precisamos
das coisas que não importam.
A vida constrói-se
na acumulação dessas migalhas.
E nelas, sem que soubéssemos,
estava o peso do mundo.