O pós-festas e a reinstalação do modo automático
Janeiro chega como quem apaga as luzes de uma festa. Os pisca-piscas são desligados, o bolo-rei já cheira a mofo, e o que resta do peru é só o arrependimento. As pessoas, que até outro dia trocavam abraços e votos de paz mundial, agora voltam a ser versões compactas e pragmáticas de si mesmas, focadas em faturas, dietas milagrosas e filas intermináveis.
Na primeira segunda-feira útil do ano, a humanidade é religada no modo "piloto automático". A magia do Natal — aquela coisa bonita de "ser gentil, amar o próximo" — desativa-se automaticamente, como uma promoção que expirou. As filas nas padarias e no trânsito voltam a ser campos de batalha silenciosos, onde se trava a luta pelo pão e pelo melhor lugar no semáforo.
As promessas de Ano Novo, é claro, duram até o primeiro convite para uma pizza. "Este ano será diferente!" dizem, antes de ceder ao velho roteiro. O ginásio enche nos primeiros dias, com filas nas passadeiras e selfies comprometidas. No entanto, basta o terceiro treino para que o ar condicionado da sala de casa volte a parecer uma escolha mais sensata do que o suor coletivo.
A verdade é que o espírito natalício tem data de validade. Depois de semanas de "ho-ho-ho", o mundo volta a ser o velho "não, não, não" de sempre. É um ciclo previsível, uma dança de falsa renovação. E, no final, todos se encontram em março, já com um olho no próximo feriado prolongado — porque, afinal, a única tradição que nunca falha é a esperança de uma pausa.
E assim segue a humanidade: recomeçando sempre do zero… até ao próximo dezembro, quando, por milagre, todos se lembrarão novamente de ser gentis. Por um tempo limitado.