O Velho e o Vazio
Sentado à beira da estrada,
o velho observa o tempo
como quem já não lhe pertence.
A vida, agora, é uma sucessão de dias iguais,
pálidos como a poeira que repousa na sua pele.
Não tem casa.
Não tem pressa.
O que tinha, perdeu.
Ou talvez tenha deixado para trás,
como se larga um peso inútil
que já não serve ao caminho.
Os olhos, turvos,
não procuram o horizonte.
Nem passado, nem futuro,
só o presente sem nome,
sem cor,
sem forma.
A vulgaridade da vida simples
veste-o como uma segunda pele.
O pão duro,
a água morna,
a cadeira velha de madeira rachada.
Nada disso pesa mais do que deveria.
Porque nada disso importa.
Já não há medo,
nem desejo,
nem saudade.
A vida, na sua essência crua,
é só um fio que se desfia lentamente,
sem alarde,
sem propósito.
O velho é livre.
Livre da fome de ter,
da sede de ser,
das correntes invisíveis que prendem os homens ao mundo.
A única riqueza que carrega
é o silêncio.
E nele,
tudo cabe.