Polegadas ou páginas:
a medida invisível do pensamento

Nunca discuta com alguém cuja televisão seja maior do que a sua biblioteca — porque, como podemos esperar que alguém que mede conhecimento em polegadas compreenda argumentos que não vêm acompanhados de cores vibrantes e som surround? Discutir com essa pessoa é como tentar ensinar filosofia a um comando à distância: aperta-se um botão, muda-se o canal, e lá se vai a paciência. Talvez seja melhor deixar que continuem a acreditar que documentário é qualquer coisa com narrador em voz grave, mesmo que seja sobre a vida íntima de reality shows.
Cada um defende o que tem: uns levantam muros de livros, outros erguem muralhas de polegadas. A diferença é que, enquanto a biblioteca exige tempo, esforço e silêncio, a televisão só pede que se sente e se cale. E é aí que a ironia se instala: quanto maior o ecrã, menor costuma ser o horizonte.
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