Quando a luz se apaga

À noite todos os gatos são pardos, dizem os sábios, os poetas e os bêbados à saída dos bares. Uma frase que parece ter nascido da união entre a cegueira noturna e a conveniência moral. Sim, porque quando as luzes se apagam, apagam-se também os escrúpulos — e subitamente, o feio torna-se misterioso, o idiota soa profundo, e a traição transforma-se num pequeno deslize de humanidade.
É a democracia das trevas: ninguém é melhor, ninguém é pior — apenas indistinto. A hipocrisia agradece, veste um manto de penumbra e dança com todos, como se a ausência de luz fosse também ausência de culpa. O canalha? Um romântico incompreendido. A oportunista? Uma mulher de visão. E tu, que viste tudo claramente à luz do dia? Cale-te, porque agora é noite — e nesta fábula conveniente, até o lobo é apenas um cão mal interpretado.
Sim, à noite todos os gatos são pardos. Mas ao amanhecer… ai de quem olhe de frente para o espelho.
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