Quando a tolerância se torna cúmplice

Até que ponto a tolerância pode ser confundida com indiferença?
O mal, de facto, não se impõe de imediato; ele infiltra-se, pede espaço em nome da liberdade e da convivência, até que, fortalecido, se volta contra a própria liberdade que o alimentou.
Não é paradoxal que aquilo que se apresenta como direito de existir acabe, na sua plenitude, a negar o direito de coexistir? Talvez a reflexão esteja menos em vigiar o mal explícito e mais em discernir quando a tolerância deixa de ser virtude para se tornar cumplicidade.
Assim, a vigilância ética não é apenas uma questão de apontar culpados, mas de perceber os sinais subtis do desequilíbrio: quando a palavra livre começa a ser restringida, quando a crítica passa a ser punida, quando a bondade é ridicularizada.
O mal não se apresenta como inimigo declarado, mas como uma alternativa sedutora, camuflada de justiça ou progresso. É nesse instante, quase impercetível, que se decide o destino de uma comunidade: se ela terá coragem de defender o bem mesmo quando este já não for a opção mais confortável.
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