Reféns do tempo e da futilidade
Vivemos num tempo em que, paradoxalmente, nunca tivemos tanto acesso à liberdade e, ao mesmo tempo, nunca fomos tão prisioneiros. Somos reféns do relógio, das obrigações impostas e, pior ainda, das expectativas alheias. O tempo deixou de ser um recurso nosso e passou a ser um déspota invisível que dita quando devemos acordar, trabalhar, descansar e até mesmo sentir.
O problema não é apenas a falta de tempo, mas a forma como o desperdiçamos. Não temos tempo para ler um livro, mas passamos horas a deslizar o dedo num ecrã. Não conseguimos encontrar espaço para um café com um amigo, mas conseguimos encaixar longas sessões de “conteúdos curtos” nas redes sociais. A busca incessante por validação transformou até os momentos mais simples em espetáculos para os outros. Fotografamos pratos de comida, registamos momentos íntimos e passamos mais tempo a documentar a vida do que a vivê-la.
O mais irónico é que, enquanto nos preocupamos em parecer felizes, esquecemos de ser felizes de facto. Enquanto tentamos controlar o tempo, deixamos que ele nos controle. Vivemos à mercê de notificações, estatísticas e métricas irrelevantes que, no fundo, nada acrescentam ao que realmente importa.
Talvez seja hora de reivindicar o que é nosso. Talvez devêssemos desligar o telefone, olhar para o céu sem tirar uma foto, conversar sem verificar mensagens e, finalmente, viver sem a obsessão de parecer que estamos a viver. Mas será que ainda sabemos como?