A cidade acordou num silêncio estranho. Não era o silêncio do alvorecer, nem aquele que precede o estrondo dos mísseis. Era um vazio opressor, um buraco no quotidiano da guerra. Há meses, talvez anos, ninguém sabia ao certo, as sirenes eram a música da vida. (...)
Diante dos que se erguem como montanhas, convencidos de serem o ponto mais alto do mundo, a arte está em ser o vento. O vento que observa, que desliza, que toca sem se prender. Eles falam como se a verdade coubesse inteira na palma da mão, como se o horizonte (...)
E ele marchou. Mediu terras, traçou fronteiras, ergueu muros, alargou mapas. Com espada, lei e cifra, tomou o que pôde e quis o que não pôde. Chamaram-lhe conquistador. Mas o tempo, impiedoso e risonho, não se dobrou ao seu império. O sol queimava as suas (...)
21.01.25 | RF |
Sentado à beira da estrada, o velho observa o tempo como quem já não lhe pertence. A vida, agora, é uma sucessão de dias iguais, pálidos como a poeira que repousa na sua pele. Não tem casa. Não tem pressa. O que tinha, perdeu. Ou talvez tenha deixado para trás, com (...)
Há dias em que as palavras fogem, como pássaros assustados diante do vento. Os versos, antes correntes vivas, tornam-se poças estagnadas. A mão pesa sobre o papel, e a tinta, seca, não desenha mais mundos. O que outrora era voz, agora é silêncio. Onde estás, (...)
"A esperança manifesta-se nas pequenas coisas: no sorriso do cuidador que lhes oferece uma chávena de chá, na visita inesperada de um neto que traz consigo o aroma da juventude, no som suave da música que percorre os corredores. Os idosos, com os seus olhos cansados, (...)