Viva o descanso eterno da Mãe Natureza (ou pelo menos até dezembro)
É com grande entusiasmo e um ligeiro toque de cinismo que celebramos mais uma façanha da humanidade: até ao fim do ano, consumiremos por crédito da Mãe Natureza. Que orgulho. Conseguimos, mais uma vez, gastar todos os recursos que o planeta produz num ano… com meses de sobra! É como receber o salário em janeiro e estar a viver de empréstimos até ao Natal. Brilhante, não é?
Claro que sim. Quem precisa de florestas, oceanos limpos ou ar respirável quando temos smartphones novos todos os anos, sacos de plástico em abundância e voos low-cost para o outro lado do mundo por 19,99€? A Mãe Natureza é paciente, generosa… e aparentemente, tem um cartão de crédito com plafond ilimitado.
Mas sejamos justos: há um lado positivo. Este ritmo desenfreado prepara-nos para o futuro. Um futuro onde, provavelmente, aprenderemos a comer microplásticos, a cultivar tomates na varanda com luz LED e a fazer férias no metaverso — tudo graças ao saldo negativo que deixamos no planeta real.
Ironias à parte, talvez esteja na hora de percebermos que viver à custa da Mãe Natureza tem juros. E quando ela cobrar a dívida, não vai aceitar desculpas. Nem reciclagem apressada.
Imagem: Pixabay